sexta-feira, 20 de abril de 2007

Histórias engraçadas da música


Para este post resolvi falar de coisas diferentes, daquelas que não acontecem a todos e que são muito engraçadas quando recordadas muito tempo depois. Estas histórias vivi-as de um modo ou de outro e fazem parte do meu álbum de recordações. Escolhi algumas das engraçadas pois as tristes guardo para o meu epitáfio e juntá-las-ei à encomenda do meu requiem…rsssss

Fa Fom You
Há alguns anos atrás escrevi uma canção chamada “Ride” que num dos versos tinha a frase “Far from You” durante as gravações de uma maqueta num conhecido estúdio e após vários dias e noites sem dormir, quando o vocalista foi colocar as vocalizações nos temas, nesta canção só se percebia “Fa Fom You”. O que nós rimos e gozámos com o desgraçado por causa disso foram dias inteiros de pagode. No primeiro ensaio da banda que ocorreu cerca de 4 dias depois dessas sessões ainda nos metíamos com o Bruno por causa do “Fa Fom You”. O ensaio começou e quando chegou à canção fatal todo o mundo ria, só que o tema era no tom de Sol e quando todos entraram certo eu entrei em Fá…rsssss foi uma gargalhada geral, por causa da brincadeira eu interiorizei o Fá e cada vez que tocávamos a música eu enganava-me sempre. O pior é que fiz a mesma coisa no espectáculo que veio a seguir e na frente de mais de 400 pessoas no Ruína Bar, no Estoril, todos entraram em Sol e eu em Fá…rssssss


B52’s e Aspergic
O Ruína Bar, no Estoril, era como que uma segunda casa para mim. Era também uma espécie de santuário dos músicos, profissionais e amadores. Ali se juntavam os Delfins, Sitiados, 4GET, Ajakalma, Primitive Reason, isto apenas para citar alguns dos mais frequentes. Graças à iniciativa do meu amigo Francisco, infelizmente já falecido, um artista e um dos sócios do bar, realizavam-se naquele espaço concertos de bandas de originais, Karaoke e iniciativas variadas. Era por isso natural que nós tocássemos lá tantas vezes, fazíamos inclusive questão em estrear sempre um tema novo quando lá tocávamos nem que eu tivesse que o escrever dois dias antes do evento. O Ruína era como a minha casa, aliás na maior parte dos dias livres eu chegava lá pelas 22h e saía com os funcionários às 7h da manhã…rsssss. Naquele dia íamos tocar lá mais uma vez…
Preparámos tudo durante a tarde, fizemos o soudcheck e ficou tudo afinado para o concerto. Quando terminámos eram já umas 19h30 e escolhemos jantar por ali perto. Eu entretanto fui a Almada buscar uma amiga minha e quando voltei já os meus companheiros iam adiantados nos aperitivos, vinho e jantar. Acabámos o repasto e o outro guitarrista começou a queixar-se de uma forte dor de cabeça. Alguém (uma das muitas garotas que andavam com a banda) lá providenciou um aspergic ao rapaz que em meia hora ficou fino. Chegámos cedo ao bar e espalhámo-nos por entre o mar de gente que começava a encher o recinto. O meu amigo guitarrista que entretanto melhorara e se esquecera resolveu emborcar uns B52’s para animar e foi uma alegria. Uma hora depois fomos para o camarim mudar de roupa e tudo parecia bem, estávamos animados, a adrenalina a subir, uma brincadeira pegada que só parou quando corremos com as garotas e curiosos porta fora para aquele momento de concentração que é só da banda. Subimos os degraus do camarim para o palco prontos para dar o litro como se costuma dizer. Mal começamos a tocar eu oiço uns ruídos estranhos do lado onde estava o outro guitarrista e virando-me um pouco vejo-o com dificuldades com o cabo que liga a guitarra ao amplificador, subo o volume da minha guitarra e continuo a tocar tentando colmatar a falta. Na segunda música o ruído era pior e ele estava a tocar. Aproximei-me dele e vi-lhe os olhos baços, as mãos pesadas batendo nas cordas sem nexo e completamente fora de tom. Subi ainda mais o volume da minha guitarra e para mim aquele show durou uma eternidade, só pedia que terminasse. Nem existiu encore seguimos directos para o camarim e lá o Miguel (o tal guitarrista) só me pedia desculpa, até de joelhos…rssss. O que acontecera fora que o álcool em conjunto com o Aspergic tinham-lhe causado uma bebedeira monstruosa e ele nem conseguia ouvir, ver ou coordenar movimentos. Ele ainda tentou ver pelas mãos do baixista em que tom é que era a música, mas o baixo era fretless (sem trastos) logo só via dedos…rssss. Regressados ao bar toda a gente nos felicitava pelo excelente concerto!? Mesmo os músicos igualmente profissionais!? Ninguém dera por nada. Bem ninguém não é bem assim… um amigo meu guitarrista da velha guarda e uma influência para mim segredou-me ao ouvido: “…Para que precisas tu de outro guitarrista?...”



Its only rock’n’roll
Foi num fim-de-semana de Agosto, saímos de manhã cedo numa carrinha, a banda e algumas convidadas, para o que seria uma viajem tranquila até à Covilhã. Nessa noite íamos tocar na discoteca Storm que nenhum de nós conhecia. A viajem decorreu sem incidentes, parámos para almoçar e como sempre o vinho regou o repasto com alguma quantidade e não faltaram os aperitivos e os digestivos para compor o ramalhete. Uma das garotas achou por bem acompanhar a banda mais no beber do que no comer e não foi por falta de aviso, mas cada um sabe de si. Já na discoteca, umas horas mais tarde começámos o soundcheck, verificação de material e todas aquelas coisas que fazem de cada espectáculo um ritual. Para quem não conheça a discoteca Storm (nem sei se ainda existe) tinha a entrada, do lado esquerdo um comprido bar que ia até quase à pista, no lado direito umas mesas. A pista estava dividida por um pequeno palco com um varandim de metal de protecção. Atravessando a pista existia um recanto em forma de ferradura com várias mesas e um banco que acompanhava o formato do espaço.
Acabámos os nossos preparativos e a nossa amiga do almoço tinha agora optado pela cervejita e muita alegria. Os donos da discoteca colocaram à nossa disposição um lauto lanche, bem regado por vinho da região e a festa continuou. Mais tarde foi o jantar com os rituais do costume, aperitivos, o bom vinho e os digestivos. No final fomos para a discoteca que já começara a encher-se de gente bonita e outra nem por isso…rssss. A nossa amiga dos copos ia bebendo e confraternizando com os clientes e chegou a vir-me apresentar o mesmo casal umas seis vezes sem exagero, os coitados já não sabiam o que fazer. Mais tarde tentou juntar-se a nós mas as dioptrias dos olhos estavam bastante alteradas e ela viu mais um metro de sofá do que na realidade existia e estatelou-se ao comprido no chão, uma festa.
Eram cerca de 22h30 quando subimos ao palco e acto contínuo entrou um grupo de homens e mulheres com aspecto algo duvidoso (prostitutas e acompanhantes). A meio do segundo tema uma das mulheres do grupo deu um estalo noutra, os homens meteram-se e não tardou que todo o mundo andasse ao estalo. O meu vocalista virou-se para mim e perguntou: “O que é que fazemos agora?” eu muito sereno respondi alegremente: “continuamos a tocar isto é rock’n’roll”…rsssss.


Maldito Stand By
Para demonstrar que até o mais cuidadoso falha tenho esta história que nunca mais esquecerei e que ficou documentada em vídeo. Estava eu a tocar com o Tó Neto no projecto Oceanea e fomos tocar à discoteca O Bote no Carvoeiro, Algarve. Pode dizer-se que estávamos em casa pois a maioria dos elementos do grupo residia nessa localidade, só eu era de Lisboa. Uma vez que se tratava de um evento pequeno e mais na desportiva resolvi fazer o baptismo de fogo a duas novas guitarras. Antes de qualquer evento, cerca de dois dias antes eu inspeccionava todo o material que iria usar. Guitarras, cabos, amplificador, transmissor, roupa e adereços. Procedi do mesmo modo. Já com todo o material instalado na discoteca voltei a fazer a verificação final e tudo ficou pronto para a noite. O set era simples, uns temas instrumentais para abrir, entrávamos nos temas vocalizados em crescendo e o final era velocidade máxima. Fiz a gestão do equipamento e com a discoteca cheia começou o concerto. Tudo correu bem até ao quarto tema Magic City of Love. Quando chegados a este tema sabia que tinha dois grandes solos e preparei-me para brilhar, peguei na minha “Bones”, uma guitarra que tem o esqueleto escavado no corpo, uma peça de arte feita pelas minhas mãos e preparei-me para começar… todos começaram menos eu, da guitarra não saiu qualquer som. Vá de ligar e desligar cabos por associação e exclusão de partes, tira pedais e sei lá mais o quê, o resto da banda a tocar e a olhar para mim com ar interrogatório e eu sem saber o que fazer, a discoteca cheia. Finalmente olho para o amplificador e vejo um botão vermelho aceso, era o Stand By. Os amplificadores a válvulas têm dois interruptores lado a lado, um para ligar e desligar o aparelho e outro (o stand by) que reduz o consumo de energia, corta a saída de som mas mantém as válvulas incandescentes e em aquecimento permanente. Assim retirei o stand by tudo voltou ao normal e ainda fui a tempo de fazer o solo principal e também o mais longo…rsss alcançando o meu momento de glória.

1 comentário:

Anónimo disse...

ha sei la quando entrei pensei que seria comentarios e elogios sobre eu mesma