terça-feira, 24 de abril de 2007

Um Amor de Quarentões

Tenho ouvido muitos comentários e afirmações sobre o amor depois dos quarenta e isso levou-me a reflectir um pouco sobre o assunto. Uma das conclusões a que cheguei é que os sites que promovem todo o tipo de encontros estão saturados de gente. Quase todas as pessoas mencionam a palavra amizade como principal objectivo para estabelecer um contacto e acabam a falar da sua imensa solidão. Será que depois dos quarenta não temos futuro no campo dos relacionamentos mais profundos?
Ao longo dos anos fui ouvindo comentários sobre os quarenta anos, uns mais pessimistas relacionados com a velhice e outros afirmando que depois dessa idade é que verdadeiramente apreciaríamos a vida. No meu caso pessoal não noto qualquer diferença no antes e depois: gosto da vida e ponto final. Não sinto que tenha mais juízo do que o que tinha anteriormente (que não era muito…rssss), sinto-me mais maduro na forma como encaro as situações mas bastante imaturo na forma como as resolvo pois após resolver, passado algum tempo, chego à conclusão de que tinha melhores opções…rssssss. Acho que isto é viver.
Após entrar num clube da amizade on-line fui conhecendo pessoas e tomando contacto com outras realidades. Apercebi-me da imensa solidão que se depreende das inúmeras conversas que surgiram, independentemente do assunto sobre o qual falei com todas essas pessoas. Será que depois dos quarenta perdemos a capacidade de amar? Será que deixamos de acreditar nos relacionamentos amorosos? Perderemos nós a capacidade de nos apaixonarmos e fazermos todas aquelas loucuras inerentes? Eu acho que não. Um dos factos que verifiquei é que aos 40 muitos de nós já têm certas prioridades perfeitamente supridas, a casa, o emprego, carreira e equilíbrio financeiro (suportável…rsss). Muitos de nós têm animais de estimação e um reduzido círculo de amigos seleccionados ao longo dos anos. Raramente fugimos das rotinas que nos impusemos e com as quais nos sentimos confortáveis e encaramos relacionamentos novos com alguma desconfiança. No fundo queremos preencher a nossa vida sentindo um grande amor, queremos que funcione, mas não queremos abdicar de nada do que já alcançámos. Claro que isto funciona para os dois lados. Partilhar uma casa só em moldes independentes, cada um fica com a sua, até por segurança, e vive-se uma meia vida em cada uma das casas ou uma vida a dois na casa de um, mas o dono da casa tem o privilégio de mandar um pouquinho mais. Em muitos casos o relacionamento é um prolongado namoro que se mantém em banho-maria, por tempo indeterminado, até que um ou ambos se fartem e cheguem à conclusão de que aquilo não vai a lado nenhum.


Quase todas as pessoas que vivem sós muito tempo tornam-se um pouco egoístas e auto suficientes. Na maior parte dos casos que conheço todas essas pessoas possuem um amigo ou amiga bastante íntimos em quem confiamos plenamente e com quem dividimos muito do nosso tempo. São pessoas da máxima confiança a quem contamos a nossa vida toda e partilhamos quase todos os nossos momentos. Não existe nada de físico entre nós é mais do tipo platónico, na verdade temos medo que se mais alguma coisa acontecer essa amizade venha a acabar da mesma forma que muitas pessoas que foram importantes na nossa vida já desapareceram há muito do nosso convívio e nem se lembram de nós.
Será que o futuro dos quarentões é um pc com microfone, uma webcam e uma linha de Internet? Então e os passeios pelas ruas para ver as montras? Um passeio pelo jardim, a ida aos museus, o lancezinho à beira mar? Onde é que a Internet nos dá tudo isso? Ficamos satisfeitos quando o outro lado da net nos conta um monte de coisas que nem temos a oportunidade de verificar in loco? E o prazer de nos vestirmos para impressionar? E o maravilhoso jogo da sedução, os olhares, os gestos, os cheiros, o jantar à luz das velas, o presentinho ou as flores, onde é que fica tudo isso?
O que nos resta? O marasmo? Envelhecermos gradualmente à espera que algo de maravilho nos aconteça, mesmo sabendo que se tal acontecer nós estaremos tão de pé atrás que seremos bem capazes de nem dar por isso?
Não há regra sem excepção, mas infelizmente pelo que constato as excepções são poucas. Vamos lá quarentões nós somos humanos, somos feitos para amar não para nos tornarmos eremitas prisioneiros da própria tralha que acumulámos ao longo dos anos, nem para ser escravos das rotinas que criamos para dizer que temos a vida organizada.
Como o título de um CD do Paulo Bragança que adoro digo apenas: AMAI

7 comentários:

Anónimo disse...

oi, este tema mereceria um comentário mais desenvolvido, mas fica só uma deixa: receio bem que as pessoas ( quarentonas, trintonas, e por aí) têm cada vez mais MEDO DE AMAR..

ps. as fotos deste post são um tudo nada arte antiga bem conservada!

bj;0)

Teresa disse...

Ai, António, bem sabe que sou muito verdadeira!

Aqui estou toda com a Kuska... e talvez até vá mais longe. Não sei se será só medo de amar... talvez aqueles terríveis versos do Leo Ferré sejam mesmo muito verdadeiros... "avec le temps on n'aime plus"...

Em relação às fotos... muito bem observado, Kuska, foi logo o que pensei, só que em pior! Acho que é melhor fazer uma análise que nos ponha aos três a rir. Querem saber como as interpreto, dando a cada uma o n.º da ordem pela qual aparecem?

1. As maravilhas que o dentífrico X faz pela nossa vida amorosa
2. As maravilhas de usufruir do crédito do banco Y para concretizar os nosso sonhos (de consumo, claro...)
3. As maravilhas que o iogurte Z fará pelo nosso colesterol e pelo nosso equilíbrio físico e psíquico
4. Se trocássemos o pc por um livro ou por uma medalha comemorativa de uma treta qualquer, teríamos aquela propaganda com que há uns anos as Selecções e as abjectas colecções Philae nos enchiam a caixa do correio, em que se viam fotografias de famílias harmoniosas e risonhas a pasmarem para o objecto publicitado com ar de beatitude
5. As maravilhas que certos medicamentos para a andropausa e a menopausa farão por nós...

Já me fartei de rir, graças a Deus. Isso não se perde com o tempo. Um beijo aos dois.

Fiquem com esta beleza...

Leo Ferré - Avec le Temps

Afgane disse...

Kuska
Gostei do comentário e reconheço que as fotos são um bocado cliché mas foi o que se arranjou...rssss mas o que conta são as palavras.
Beijos

Afgane disse...

Teresa
Já esprava o seu comentário...rss sei que não perderia a oportunidade e a Diabba é a sua amiga...rsssss. Adorei a sua interpretação das fotos estou a rir que nem um perdido. Mesmo que este post seja para o sério a verdade é que acabou por ter uma função mais bem interessante: deixar-nos bem dispostos e divertidos.
Obrigado pela prenda
Beijos

Anónimo disse...

Teresa,
Leo Ferré foi um dos meus gurus do pós-adolescência, ou de adolescência tardia.. Tive a sorte de assistir a um espectáculo dele em Lisboa (penso que o único) e foi absolutamente esmagador e incantatório!
(uma nota à margem: ele é virginiano)
a primeira vez que o ouvi, ia de carro não me lembro para onde, passou na rádio. fiquei siderada. no dia seguinte fui comprar o albúm.
Sempre fui muito influenciada pela cultura francesa, em todas as vertentes. Acho que escapei à colonização inglesa ;0)
But I still believe in LOVE.

xxx

Anónimo disse...

lindo,
ainda voltando às ilustrações deste post, agora que já viste a figura rídicula em que colocam a ternura dos quarenta, és obrigado a substituí-las todas por aqueles desenhos super giros dos velhotes barrigudos e das velhotas de maminhas descaídas, olhando-se com ar concuspiciente ;0)

beijinhos babosos

Afgane disse...

Querida Kuska,
Bem me parecia que tu querias é banda desenhada decadente...rsss quem sabe num próximo post
beijos