Depois de ter feito um post com algumas das histórias engraçadas que me aconteceram enquanto músico, aproveitando que hoje domingo que está a chover, resolvi contar algumas das histórias engraçadas que me aconteceram ao longo da vida. Não sei se serão as melhores, mas na minha modesta opinião creio serem a minha coroa de glória…rsssss
Chocolate Suiço
Quando andava na escola preparatória (assim se chamava na época) aconteceu-me um dia ir a uma das gavetas dos meus pais buscar um papel já nem sei para quê. Dentro da gaveta estava um quadradinho embrulhado numa prata que me pareceu ser chocolate. Guloso e curioso como sou peguei-lhe e vá de experimentar, infelizmente era um pouco amargo demais para o meu gosto e só dei uma pequena trinca (sou muito cauteloso com coisas novas), abandonando, desiludido, o restante. Passados alguns minutos tive que correr para a casa de banho pois a minha barriga estava às voltas, percebi que era do chocolate porque o meu pai sofria de obstipação e dizia que comia chocolate laxante. Enquanto estava na sanita o meu cérebro trabalhava a cem à hora. Fui novamente à gaveta e vi que o meu pai tinha caixa e meia de Dulcolax, o tal chocolate. Peguei nas caixas e fui à mercearia local pedir um cartuchinho daqueles enfeitados que serviam para os bombons e outros doces do género (eu ainda sou do tempo dos doces avulso). Feito isto fui engendrando um plano enquanto me dirigia para a escola, naquele tempo íamos a pé para a escola, nada de luxos automobilísticos. A minha turma já era mista e exibindo o meu precioso cartuchito fui contando a história de que aqueles eram uns chocolates especiais que uma tia minha me enviara da Suiça. A verdade é que toda a gente comeu ou melhor, todos menos eu e uma desmancha-prazeres que não gostava de chocolate. A aula de Francês estava a começar e de repente começa-se a ouvir “setora tenho que ir à casa de banho estou muito aflito…”, depois outro e uma outra, mais uma aqui e outro acolá… a debandada foi geral e a professora sem perceber nada daquilo e eu rindo até às lágrimas enquanto via aquele corrupio de gente entupindo as casas de banho dos rapazes e a das raparigas, corriam já desapertando as calças pelo caminho numa aflição que só visto, os rostos congestionados, os olhos esbugalhados e eu ria até não poder mais.
Moral da história apanhei 15 dias de suspensão por não conseguir parar de rir nem na presença da directora da escola e um dos meus colegas que comeu sete chocolates esteve um mês em casa a chá e bolachas e quando voltou estava mais amarelinho do que um chinês e como a inteligência não era muita ainda me disse o seguinte: “É pá aquele chocolate que me deste era bom mas fez-me muito mal, imagina que mal eu bebia um copo de água borrava-me todo…”…rsssss.
Uma égua e cabeça dura
Eu já andava no Liceu Nacional de Cascais (S. João do Estoril) quando isto aconteceu por isso deveria ter cerca de 16 ou 17 anos. Na Torre, em Cascais, existia um picadeiro onde hoje é o hipermercado Lidl. Este picadeiro ficava perto da minha casa e como eu gostava de cavalos andava sempre lá metido. Fiz amizade com o proprietário e donos dos cavalos e em troca de ajudar nos trabalhos e manutenção aprendi a montar e montava regularmente. Assistia com regularidade ao desbravar dos cavalos novos, treino de alta escola e obstáculos. Um dia, no picadeiro mais pequeno que era delimitado por um muro bastante alto em cimento, estava uma égua com 1 ano de idade que nunca tinha sido montada e junto com um dos responsáveis estávamos um grupo de jovens, rapazes e raparigas mais ou menos rondando a mesma idade. O Emílio (o responsável andava já na casa dos trinta e poucos anos), lançou um repto que consistia em saber qual dos cavaleiros presentes, masculino ou feminino, seria capaz de montar aquela égua em pelo sem qualquer apetrecho e aguentar uma volta inteira sem ser atirado ao chão. Claro que começaram as bravatas, todos eram campeões de língua como os jovens naquela idade são. Face a tantos bravos e bravas o Emílio grita: “Então que avance o primeiro!” – aí a coisa mudou de figura, todos olhavam uns para os outros e ninguém avançava. Nessa hora o estúpido que está a escrever isto encheu o peito dar para se fazer ouvido e para se exibir para as garotas (as mulheres sempre foram a minha perdição…rssss) avançou uns passos e disse “Vou eu!! (eu e a mania das luzes da ribalta).
Montar até que não foi difícil e aguentei bem os saltos e as esticadelas que me desconjuntaram o corpo todo, dei duas voltas a toda a velocidade em torno do picadeiro até que, na terceira volta a égua com um torção projectou-me voando em direcção ao muro de cimento… voei, vi o muro a aproximar-se a grande velocidade, tentei estender as mãos e de repente “Boc!” a minha cabeça embateu no muro com aquele ruído surdo, ainda senti as mãos baterem depois e foi tudo. Não sentia nada, estava tudo escuro e as vozes cegavam até mim muito longe. Lembro-me de estar a pensar “Olha que estupidez morri. Não sinto corpo, não sinto dores, uma paz imensa, tudo escuro e vozes longínquas isto tem que ser a morte. Só que está tudo escuro e não vejo qualquer luz, o que faço agora?” Repentinamente senti um frio enorme na cara e umas dores intensas, abri os olhos e estava junto do bebedouro dos cavalos, lavavam-me a cara com água e diziam-me que estivera desmaiado algum tempo. Afinal não morrera e tinha a cara e as mãos todas esfoladas…rsssss.
Morte fictícia
Mais ou menos quando eu tinha 13 anos fui internado no Hospital de Santa Marta com uma febre reumática. Estive naquele serviço de medicina cerca de um ano. Naquele serviço morria gente todos os dias e depressa nos habituamos a conviver com a morte, a tal ponto que o seguinte episódio demonstra isso mesmo. Acabara eu de regressar de uns exames e pouco passava das 13h da tarde, tinham-me guardado a comida, batatas cozidas com couves e bacalhau. Sentei-me numa mesa que existia no meio da enfermaria que era composta por oito camas quatro de cada lado. Uns dias antes o meu vizinho do lado esquerdo tivera alta, mas a cama estava agora ocupada. Enquanto eu comia o meu vizinho do lado direito ia narrando os factos “Olha pá mandaram este velho cá para cima, veio das consultas. Acho que vem cheio de pulgas e cheira um bocado mal. Acho que tem “Trícia” (Icterícia) por isso é que está todo amarelo. Eu deitei uma olhada ao velhote e continuando a comer calmamente disse para o meu vizinho o seguinte: “Eu se fosse a ti carregava nesse botão de emergência para pedir ajuda pois a cor do velho é o amarelo de quem foi desta para melhor” e continuei a comer. O meu vizinho ainda pensou que eu estava a brincar mas depois de olhar para o velho carregou no tal botão. Agora vocês imaginem eu comendo tranquilamente no meio da enfermaria, os doentes todos pendentes do que estava a acontecer, enfermeiras correndo com equipamentos de reanimação, choques eléctricos e tudo o mais. Claro que o velhote bateu mesmo a bota. Cobriram-no e arrastaram a cama para fora da enfermaria para um local onde ficaria à espera do certificado médico do óbito. Virei-me tranquilamente para o meu vizinho e disse: “parece que nos livrámos das pulgas”. Isto é chocante mas é a realidade ficamos imunes. Mas esta morte deu-me uma ideia. Combinei com dois malucos como eu e esperámos pela mudança de turno dos enfermeiros e aí eu deitei-me na cama coberto pelo lençol e com um pé de fora onde estava pendurada a etiqueta de identificação para o óbito. Os dois malucos chamaram os enfermeiros recém chegados que nem queriam acreditar. Eu era muito querido naquele serviço, fazia poemas, desenhos, auxiliava nos trabalhos e acompanhava as vígilias com os enfermeiros. Confrontados com a minha morte os enfermeiros lamentaram a minha morte e algumas enfermeiras até choraram. Depois daquilo voltou toda a gente para a cama e os enfermeiros para a sua sala esperando que aquela fosse uma noite tranquila. Durante a noite preparava-se sempre um petisco, eu esperei até cerca das 2h da manhã e na hora do petisco, quando estavam todos a comer e a falar de mim e de como eu era bom rapaz eu surjo na sala e digo “E então não há uma buchinha para mim?”… olhem foi um mar de gente engasgada, os dois malucos e eu a rir a bandeiras despregadas, um pratinho…rsssss.
Há muitas mais histórias para contar mas não quero fazer este post muito longo pois acabo por me deixar entusiasmar e transformo este blog num livro das muitas histórias que tenho e que fazem parte de uma vida recheada de peripécias.
Chocolate Suiço
Quando andava na escola preparatória (assim se chamava na época) aconteceu-me um dia ir a uma das gavetas dos meus pais buscar um papel já nem sei para quê. Dentro da gaveta estava um quadradinho embrulhado numa prata que me pareceu ser chocolate. Guloso e curioso como sou peguei-lhe e vá de experimentar, infelizmente era um pouco amargo demais para o meu gosto e só dei uma pequena trinca (sou muito cauteloso com coisas novas), abandonando, desiludido, o restante. Passados alguns minutos tive que correr para a casa de banho pois a minha barriga estava às voltas, percebi que era do chocolate porque o meu pai sofria de obstipação e dizia que comia chocolate laxante. Enquanto estava na sanita o meu cérebro trabalhava a cem à hora. Fui novamente à gaveta e vi que o meu pai tinha caixa e meia de Dulcolax, o tal chocolate. Peguei nas caixas e fui à mercearia local pedir um cartuchinho daqueles enfeitados que serviam para os bombons e outros doces do género (eu ainda sou do tempo dos doces avulso). Feito isto fui engendrando um plano enquanto me dirigia para a escola, naquele tempo íamos a pé para a escola, nada de luxos automobilísticos. A minha turma já era mista e exibindo o meu precioso cartuchito fui contando a história de que aqueles eram uns chocolates especiais que uma tia minha me enviara da Suiça. A verdade é que toda a gente comeu ou melhor, todos menos eu e uma desmancha-prazeres que não gostava de chocolate. A aula de Francês estava a começar e de repente começa-se a ouvir “setora tenho que ir à casa de banho estou muito aflito…”, depois outro e uma outra, mais uma aqui e outro acolá… a debandada foi geral e a professora sem perceber nada daquilo e eu rindo até às lágrimas enquanto via aquele corrupio de gente entupindo as casas de banho dos rapazes e a das raparigas, corriam já desapertando as calças pelo caminho numa aflição que só visto, os rostos congestionados, os olhos esbugalhados e eu ria até não poder mais.
Moral da história apanhei 15 dias de suspensão por não conseguir parar de rir nem na presença da directora da escola e um dos meus colegas que comeu sete chocolates esteve um mês em casa a chá e bolachas e quando voltou estava mais amarelinho do que um chinês e como a inteligência não era muita ainda me disse o seguinte: “É pá aquele chocolate que me deste era bom mas fez-me muito mal, imagina que mal eu bebia um copo de água borrava-me todo…”…rsssss.
Uma égua e cabeça dura
Eu já andava no Liceu Nacional de Cascais (S. João do Estoril) quando isto aconteceu por isso deveria ter cerca de 16 ou 17 anos. Na Torre, em Cascais, existia um picadeiro onde hoje é o hipermercado Lidl. Este picadeiro ficava perto da minha casa e como eu gostava de cavalos andava sempre lá metido. Fiz amizade com o proprietário e donos dos cavalos e em troca de ajudar nos trabalhos e manutenção aprendi a montar e montava regularmente. Assistia com regularidade ao desbravar dos cavalos novos, treino de alta escola e obstáculos. Um dia, no picadeiro mais pequeno que era delimitado por um muro bastante alto em cimento, estava uma égua com 1 ano de idade que nunca tinha sido montada e junto com um dos responsáveis estávamos um grupo de jovens, rapazes e raparigas mais ou menos rondando a mesma idade. O Emílio (o responsável andava já na casa dos trinta e poucos anos), lançou um repto que consistia em saber qual dos cavaleiros presentes, masculino ou feminino, seria capaz de montar aquela égua em pelo sem qualquer apetrecho e aguentar uma volta inteira sem ser atirado ao chão. Claro que começaram as bravatas, todos eram campeões de língua como os jovens naquela idade são. Face a tantos bravos e bravas o Emílio grita: “Então que avance o primeiro!” – aí a coisa mudou de figura, todos olhavam uns para os outros e ninguém avançava. Nessa hora o estúpido que está a escrever isto encheu o peito dar para se fazer ouvido e para se exibir para as garotas (as mulheres sempre foram a minha perdição…rssss) avançou uns passos e disse “Vou eu!! (eu e a mania das luzes da ribalta).
Montar até que não foi difícil e aguentei bem os saltos e as esticadelas que me desconjuntaram o corpo todo, dei duas voltas a toda a velocidade em torno do picadeiro até que, na terceira volta a égua com um torção projectou-me voando em direcção ao muro de cimento… voei, vi o muro a aproximar-se a grande velocidade, tentei estender as mãos e de repente “Boc!” a minha cabeça embateu no muro com aquele ruído surdo, ainda senti as mãos baterem depois e foi tudo. Não sentia nada, estava tudo escuro e as vozes cegavam até mim muito longe. Lembro-me de estar a pensar “Olha que estupidez morri. Não sinto corpo, não sinto dores, uma paz imensa, tudo escuro e vozes longínquas isto tem que ser a morte. Só que está tudo escuro e não vejo qualquer luz, o que faço agora?” Repentinamente senti um frio enorme na cara e umas dores intensas, abri os olhos e estava junto do bebedouro dos cavalos, lavavam-me a cara com água e diziam-me que estivera desmaiado algum tempo. Afinal não morrera e tinha a cara e as mãos todas esfoladas…rsssss.
Morte fictícia
Mais ou menos quando eu tinha 13 anos fui internado no Hospital de Santa Marta com uma febre reumática. Estive naquele serviço de medicina cerca de um ano. Naquele serviço morria gente todos os dias e depressa nos habituamos a conviver com a morte, a tal ponto que o seguinte episódio demonstra isso mesmo. Acabara eu de regressar de uns exames e pouco passava das 13h da tarde, tinham-me guardado a comida, batatas cozidas com couves e bacalhau. Sentei-me numa mesa que existia no meio da enfermaria que era composta por oito camas quatro de cada lado. Uns dias antes o meu vizinho do lado esquerdo tivera alta, mas a cama estava agora ocupada. Enquanto eu comia o meu vizinho do lado direito ia narrando os factos “Olha pá mandaram este velho cá para cima, veio das consultas. Acho que vem cheio de pulgas e cheira um bocado mal. Acho que tem “Trícia” (Icterícia) por isso é que está todo amarelo. Eu deitei uma olhada ao velhote e continuando a comer calmamente disse para o meu vizinho o seguinte: “Eu se fosse a ti carregava nesse botão de emergência para pedir ajuda pois a cor do velho é o amarelo de quem foi desta para melhor” e continuei a comer. O meu vizinho ainda pensou que eu estava a brincar mas depois de olhar para o velho carregou no tal botão. Agora vocês imaginem eu comendo tranquilamente no meio da enfermaria, os doentes todos pendentes do que estava a acontecer, enfermeiras correndo com equipamentos de reanimação, choques eléctricos e tudo o mais. Claro que o velhote bateu mesmo a bota. Cobriram-no e arrastaram a cama para fora da enfermaria para um local onde ficaria à espera do certificado médico do óbito. Virei-me tranquilamente para o meu vizinho e disse: “parece que nos livrámos das pulgas”. Isto é chocante mas é a realidade ficamos imunes. Mas esta morte deu-me uma ideia. Combinei com dois malucos como eu e esperámos pela mudança de turno dos enfermeiros e aí eu deitei-me na cama coberto pelo lençol e com um pé de fora onde estava pendurada a etiqueta de identificação para o óbito. Os dois malucos chamaram os enfermeiros recém chegados que nem queriam acreditar. Eu era muito querido naquele serviço, fazia poemas, desenhos, auxiliava nos trabalhos e acompanhava as vígilias com os enfermeiros. Confrontados com a minha morte os enfermeiros lamentaram a minha morte e algumas enfermeiras até choraram. Depois daquilo voltou toda a gente para a cama e os enfermeiros para a sua sala esperando que aquela fosse uma noite tranquila. Durante a noite preparava-se sempre um petisco, eu esperei até cerca das 2h da manhã e na hora do petisco, quando estavam todos a comer e a falar de mim e de como eu era bom rapaz eu surjo na sala e digo “E então não há uma buchinha para mim?”… olhem foi um mar de gente engasgada, os dois malucos e eu a rir a bandeiras despregadas, um pratinho…rsssss.
Há muitas mais histórias para contar mas não quero fazer este post muito longo pois acabo por me deixar entusiasmar e transformo este blog num livro das muitas histórias que tenho e que fazem parte de uma vida recheada de peripécias.
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