sexta-feira, 20 de abril de 2007

Nice Boys Don't Play Rock'N'Roll


Existiu sempre um certo preconceito contra os músicos de rock. Pelo menos no que respeita aos que militam por aquele rock mais "pesadote". Ainda me lembro de olharem para mim de soslaio quando eu passava com o meu cabelo comprido, blusão de cabedal, calças de ganga (hoje diz-se jeans é mais fino), botas ao estilo cowboy e aquele ar de rebeldia que caracteriza a juventude. A coisa piorava quando a acompanhar esta imagem se juntava uma guitarra. Ser músico era sinónimo de vagabundo, indesejável, mandrião e sei lá que mais. Mas era tudo isto que atraía as jovenzitas que viam em nós uma forma de contrariar os pais e também nos achavam o máximo. Aliás, numa banda os mais atractivos são sempre o vocalista e o guitarrista.

A verdade é que foram uns tempos bem empregues aqueles em que comprei uma guitarra eléctrica e de forma autodidacta (como em tudo na minha vida) aprendi a tocar. Tinha eu os meus oito anos quando pela mão da minha mãe vi na Pompeu Machado (No fundo da Rua do Carmo), uma linda guitarra preta na montra da loja. Lembro-me de ter dito: "Mãe eu quero aquela!" - foi o começo do sonho. Desde esse dia as guitarras passaram a fazer parte do meu dia a dia. Primeiro em sonhos até cerca dos meus 16 anos, altura em que comprei a primeira guitarra. Custou-me 40 contos. Cinco contos do meu vencimento, mais cinco que o patrão me adiantou e fiquei a pagar o resto em seis meses...rssss, uma fortuna. Liguei essa guitarra ao meu gira-discos (após uns quantos dolorosos choques eléctricos) e a coisa lá funcionou. Mas a minha experiência musical teve a sua estreia aos 10 anos de idade, altura em que escrevi a minha primeira letra e fiz de cabeça e assobiando a minha primeira música. Estava eu na Colónia Balnear Infantil do Século. Foi a minha estreia em palco e dei a primeira entrevista para o jornal "O Século". Mas avançando um pouco na cronologia... obtive a minha guitarra e comecei a aprender a tocar copiando os discos.
Por umas e por outras lá fui evoluíndo. Simultâneamente fui desmantelando e montando a guitarra para perceber como era feita e não demorei muito no caminho da personalização. Algum tempo mais tarde já dominando a construção e a electrónica entrei para uma loja a Garrett Música como reparador de instrumentos. Seguiu-se a construção uma parte de que me orgulho bastante e em que fiz peças interessantes como esta da foto que faz parte da minha colecção particular, chama-se "Bones".
Na realidade, quem me conhece bem sabe que eu não consigo viver sem uma guitarra por perto e se forem várias, melhor!...rsssss cada um com a sua tara. Durante muitos anos dividi a minha vida entre outras actividades, a música e as guitarras, sendo que estas últimas foram a coisa mais constante da minha existência. Mas entre tudo o que fiz, música, poesia, informática, Jornalismo, o estar em palco é algo sublime. Nada se compara a estar ali em cima, em sentir a música percorrer o nosso corpo e dar-nos uma energia que não há mais nada igual. Não há palavras para descrever tal sensação. Nós olhamos cá para baixo e vimos apenas cabeças ondulantes, gentes sem rosto que acenam e pulam na nossa frente, em comum só aquela vibração que nos une como que num celebrar único. O resto não existe, só nós e a música, só eu e a minha guitarra naquela união com o cosmos. Naquele momento e naquele lugar sou o rei do universo. Muitos anos, muitas noites e centenas de histórias. Muitas namoradas, alegrias e tristezas. Muitas guitarras e muitos anos depois, hoje sinto-me um homem com sorte pois a vida deu-me algo que vale mais do que todos os euro milhões do mundo: uma vida rica, cheia e também, a seu modo, feliz.

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