
Existiu sempre um certo preconceito contra os músicos de rock. Pelo menos no que respeita aos que militam por aquele rock mais "pesadote". Ainda me lembro de olharem para mim de soslaio quando eu passava com o meu cabelo comprido, blusão de cabedal, calças de ganga (hoje diz-se jeans é mais fino), botas ao estilo cowboy e aquele ar de rebeldia que caracteriza a juventude. A coisa piorava quando a acompanhar esta imagem se juntava uma guitarra. Ser músico era sinónimo de vagabundo, indesejável, mandrião e sei lá que mais. Mas era tudo isto que atraía as jovenzitas que viam em nós uma forma de contrariar os pais e também nos achavam o máximo. Aliás, numa banda os mais atractivos são sempre o vocalista e o guitarrista.
Por umas e por outras lá fui evoluíndo. Simultâneamente fui desmantelando e montando a guitarra para perceber como era feita e não demorei muito no caminho da personalização. Algum tempo mais tarde já dominando a construção e a electrónica entrei para uma loja a Garrett Música como reparador de instrumentos. Seguiu-se a construção uma parte de que me orgulho bastante e em que fiz peças interessantes como esta da foto que faz parte da minha colecção particular, chama-se "Bones". Na realidade, quem me conhece bem sabe que eu não consigo viver sem uma guitarra por perto e se forem várias, melhor!...rsssss cada um com a sua tara. Durante muitos anos dividi a minha vida entre outras actividades, a música e as guitarras, sendo que estas últimas foram a coisa mais constante da minha existência. Mas entre tudo o que fiz, música, poesia, informática, Jornalismo, o estar em palco é algo sublime. Nada se compara a estar ali em cima, em sentir a música percorrer o nosso corpo e dar-nos uma energia que não há mais nada igual. Não há palavras para descrever tal sensação.
Nós olhamos cá para baixo e vimos apenas cabeças ondulantes, gentes sem rosto que acenam e pulam na nossa frente, em comum só aquela vibração que nos une como que num celebrar único.
O resto não existe, só nós e a música, só eu e a minha guitarra naquela união com o cosmos. Naquele momento e naquele lugar sou o rei do universo. Muitos anos, muitas noites e centenas de histórias. Muitas namoradas, alegrias e tristezas. Muitas guitarras e muitos anos depois, hoje sinto-me um homem com sorte pois a vida deu-me algo que vale mais do que todos os euro milhões do mundo: uma vida rica, cheia e também, a seu modo, feliz.


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