É sempre difícil falarmos de nós, pelo menos nos termos em que outros falariam. Este post destina-se mais às várias pessoas, amigos e colegas que não param de me perguntar porque é que não faço mais nada com a música. Espero que fiquem esclarecidos.
Não faz muito tempo, vinha eu ao volante do meu carro, cerca das 23h, quando mudei de posto no rádio e sem qualquer opção definida fiquei-me pela Rádio Capital. O que me despertou a atenção foi o nome do programa: Hotel Califórnia. Esta é sem dúvida uma das minhas canções favoritas de sempre, mas o programa em si é composto por bom rock. Ouvi um pouco de tudo, rock mais melodiosos, FM, mais duro e até rock sinfónico. Isto remeteu-me para o tempo em que gastava rios de dinheiro em Lp’s. Possuía uma vasta colecção de álbuns bastante eclética, delícia dos meus amigos que ocupavam o meu quarto para ouvirmos música. Lembro-me que escutávamos álbuns completos faixa a faixa e não apenas as faixas de sucesso como acontece actualmente. Nesses discos encontrei a minha formação musical e inspiração, foi daí que iniciei a minha caminhada como músico e compositor. Militei algum tempo em grupos que animavam os bailaricos, escola obrigatória para qualquer jovem iniciado nesta vida de saltimbanco. A maior parte do meu tempo como músico centrou-se em bandas de temas originais e tocando com músicos que sabiam mais do que eu, fui evoluindo em todos os aspectos incluindo na presença em palco. Nos anos oitenta ainda fiz muitas gravações com um amigo teclista, fazíamos sessões de dias inteiros, tudo de improviso, gravámos muita fita com essas divagações musicais, a maior parte perdida em qualquer canto pois não as encontro. Foi igualmente neste período que me dediquei à informática e me afastei da música. O regresso deu-se em 1992 com os Moloc. Tudo começou por acaso mas a verdade é que durou até 1994 e poderia ter continuado, mas não dependia só de mim. Nessa altura, finais de 94, comecei a tocar com o Tó Neto, estreei-me num espectáculo nas festas dos pescadores de Cascais, a minha colaboração com ele durou até 1997 altura em que entrei para a revista Promúsica como jornalista e especialista de instrumentos. Ainda assim participei em alguns projectos o de maior destaque foram os We Feel Good. Depois disso só esporadicamente voltei a estar em palco, sendo a última vez em 2002. Devido a vários condicionalismos por causa da minha actividade profissional abandonei aos poucos a música, excepção feita para um projecto que ainda hoje está por finalizar e que é uma colaboração com Álvaro M. Rocha, teclista, produtor e um músico das novas tecnologias electrónicas, uma pessoa com enorme potencial. Gravámos 4 temas que podem ser ouvidos na sua página da net, ficando de gravarmos o resto um dia qualquer. Ainda componho canções e toco em casa ou quando me junto com amigos, mas profissionalmente acabou, pelo menos para já. Diversos problemas pessoais retiraram-me a vontade de tocar, apenas a minha paixão pelas guitarras permanece inalterável e por isso encetei uma nova etapa desenhando modelos totalmente originais para um fabricante alemão que vai produzir alguns, o que me enche de alegria e orgulho.
A todos os que me têm pressionado, agradavelmente, para que volte a tocar quero dizer o seguinte: não digo que desta água não beberei, quem sabe o que o amanhã nos reserva? Estar em palco é para mim o expoente máximo da realização, sou um animal de palco. Tive muita gente que dizia que olhava para mim e parecia que eu fazia tudo parecer fácil, tocava de maneira relaxada e até me comparavam com o Keith Richards (Rolling Stones) na maneira de estar em palco. Nos inúmeros espectáculos do Ruína Bar tive até um músico americano que me disse que nunca perdia uma actuação minha e que até chegava mais cedo para arranjar lugar para me ver bem, pois que eu transmitia uma energia, uma forma de estar que era como se eu pertencesse ali, ao palco. Na verdade eu gosto de tocar ao vivo, vibro com cada tema e costumo dizer que a música é a minha droga. Não vejo a assistência, nem o resto dos músicos, sou só eu a minha guitarra e a música, uma sensação única e inimitável. Certas músicas fazem-me vibrar mais do que outras, exemplo disso é esta deste pequeno vídeo que coloquei aqui. É um tema do Tó Neto, mas tem qualquer coisa de especial, um cheiro a rock misturado com Santana, um tema que me faz vibrar.
Quero agradecer a todos quantos me apoiaram ao longo dos anos e a todos os que me incentivam a voltar. Para já não está nos meus planos, mas amanhã quem sabe?
Vídeo de Tó Neto e Oceânia (Tó Neto, Ilze Van Zanten, Marta Casado, Tomé e António Conceição) ao vivo, tema Magic City da autoria de Tó Neto.
sexta-feira, 25 de maio de 2007
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22 comentários:
querido Toni,
mesmo a esta distância, medida em tempo, é-me muito difícil fazer um comentário como se estivesse de fora, porque na verdade também estive dentro da Magic City (of love)e outras tantas músicas.
não preciso dizer que te entendo bem demais e tu sabes que resisto a ser saudosista...
por isso, para mim continuas a ser o guitarrista que agora desenha cartoons e que escreve o que lhe vai na alma. sem pudor e sem metáforas.
faças o que fizeres és sempre genuíno (incluindo as asneiradas) e como a música está dentro de ti: wait and see!
beijos rockeiros
Ehhh lá!!
Narciso ao ataque??
beijo d'enxofre
Kuska,
Pois é participaste em muitas destas andanças, acaompanhaste, aturaste e levaste várias secas por conta...rssss obrigado pelo teu maravilhoso comentário.
Beijos
Diabba,
Nada de narciso mesmo...rssss mas nem imaginas os mails que tenho de pessoas que me perguntam porque deixei de tocar e se não vou voltar. Penso que com este post respondi a todo o mundo. Além do mais respeitinho pela minha cauda demoníaca e pelos chifres que custaram muito a adquirir numa loja de penhores infernal, o dinheiro era tão pouco que nem tenho tridente só arranjei um bidente (um gajo que tem "bisões" como no Norte carago).
Beijos
Um dia alguem disse:
"O sonho comanda a vida,
e enquanto um homem sonha, o mundo pula e avança".
Nunca pudemos parar e sonhar, é isso que nos faz viver, e nos empurra para a frente.
Todos os dias viramos uma página da nossa vida, e cada dia é uma nova aventura.
beijos.
Hotel California!
Uma música e um disco que foram um marco (por acaso a minha música favorita deles não é essa, mas é do álbum, é a última, The Last Resort).
Descobri que estava a ficar velha (aos 28 anos!) quando a ouvi no Viva o Velho do Pedro Albergaria, na Rádio Comercial - lembra-se do programa?
Se aquilo, com apenas onze anos, já era velho, também não fazia de mim nova! Associo sempre o Hotel California ao meu primeiro ano de universidade, tinha eu 17 acabadinhos de fazer.
E o meu amigo Victor, que andava a arrastar a asa (força de expressão, a coisa foi fulminante, conquistou-a numa semana) a uma colega nossa, a Rosário, de diminutivo Charito, fez uma adaptação hilariante da letra em homenagem a ela. Ainda me lembro de algumas partes, porque seguia o original a par e passo.
Num deserto de areia,
Com frio no cabelo
Lá vinha a Charito
Completamente em pêlo
(...)
Perguntaram ao Capitão
Onde parava o Mundinho
Esse fulano desapareceu
Desde que a taberna tem vinho*
(...)
(...) Isto não é nenhum museu helénico
Fiquem o tempo que quiserem
Mas não levem o papel higiénico!
* Referência à histórica Gabriela, que na altura passava na televisão.
Quanto a voltar a tocar, querido António... o bichinho está lá, não é... Há coisas que interrompemos sabendo que mais tarde ou mais cedo serão retomadas. Ou não. Ao sabor dos impulsos.
Pandora,
Eu ainda sonho, todos os dias sonho com muitas das coisas que ainda gostaria de viver e acabo por viver outras que nada têm a ver. Mas cardeito nos sonhos e acredito que um dia, um dia vou conseguir realizar alguns. Até lá vou virando as páginas da minha vida com os olhos bem abertos.
Beijos
Querida Teresa,
No que respeita a The Eagles é uma das minhas bandas favoritas de sempre e gosto da maior parte das músicas, mas Hotel Califórnia ainda continua a provocar-me arrepios de puro prazer e de cada vez que a escuto é como se fosse a primeira vez.
Lembro-me do programa do Pedro Albergaria sim senhor, mas essa de velha aos 28 anos é de morrer a rir.
A adptação da letra feita pelo seu amigo Victor está fenomenal, ainda vou experimentar cantar com a música para ver como é que soa...rssss
Tem razão quando diz que o bichinho está cá, é verdade, mas muitas coisas teriam que mudar e outras que ser feitas, para que eu voltasse a tocar. Não quero dizer não em definitivo, quem sabe o que o amanhã nos reserva? Pelo menos tenho uma consolação: se a vida me correr muito mal e eu me tornar um sem abrigo sempre posso ir tocar para o metro ou pelas esquinas e não morro de fome...rsss
Beijos
Dá para ver que a música é fundamental. Senão, onde ficaria o "Afgholic Rock"??
Huuummm...
não tem havido cartoons últimamente ;0(
tenho saudades do Affie e do Rock!
Slap's
Van Dog.
Música vai existir sempr na minha vida, sem ela e sem guitarras eu morreria e o Afgholic Rock vai bem embalado ainda vai chegar aos 100 (cartoons não anos he he he).
Abraço
Marla,
Os cartoons estão em marcha para fazer um livro, mas oportunamente o Affie e o Rock passarão aqui pelo blog.
Beijos
A frase seguinte é verdadeira.
A frase anterior é falsa.
Foi-me colocado este problema insolúvel em "lógica binária". Metaforicamente respondi:
A frase que se segue é a frase que se segue.
Vai dar ao mesmo, mas liberta o "ciclo" do "ciclo" de forma a crescer sem voltar atrás. O meu professor na altura (um Doutorado no Técnico) ficou assombrado.
Isto porque "matematicamente" a coisa tem solução, mas nunca pensou que a descrevesse textualmente.
Qual o meu "point"?
O reverse. Deixar de algo é também nesse contexto, fazer algo.
Deixar de fazer é também... fazer.
Cada um faz o que quer, e quando não faz, está também a fazer... o que quer não fazer. :-)
Não se escapa à Natureza, escapa-se a escapar-se-lhe, o que matematicamente resulta em não se lhe escapar. Tal como ambos os ciclos lógicos acima, o primeiro da "negação", o segundo da "aceitação e siga para a frente".
Perdoem a filosofia, ou não...
Abraços,
AMR
http://www.alvaromrocha.com
OOOOOH NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOO!
Mais outro! Isto é que é uma praga, hem?!
Álvaro,
Não sei quem é que colocou ácidos na tua sopa mas que funcionaram não há dúvida...rsss deu-te para a filosofia meu amigo. Bebe uns copos que isso passa, comigo resulta. Vai aparecendo por aqui
Abraço
Querida Teresa,
Este não é engano é um músico e produtor amigo meu. Só que é filósofo também, nas horas vagas.
Beijos
Espectaculo....adorei
bj
Alexia,
Obrigado
AC, my man:
Não como sopa, mas bebo ácido nos copos... rsss.
Embora a dietilamida do ácido lisérgico, vulgo quasi "cogumelos" de Amsterdão que me puseram a ver quadros no museu Van Gogh a piscarem-me o olho, não seja bem do meu tempo, existe algo bem intemporal...
... Esta aguardente "D'Alma" por exemplo - *ahh* que pomada cambada! - arde sem se ver...
Algo que não se pode dizer do Cohiba, mas este lança uma névoa poética sobre as ideias sem o veneno da nicáste-te-tina se intrusar nas abufadeiras álvar-ó-pulmonares porque nunca "travei".. Eu é mais reduzir ou trespassar...
Nothing in moderation...
Vou beber uns copos a ver se passa... Depois fico na estrada de chave na mão e enquanto tudo anda à roda, espero que a minha casa passe...
No entretanto, vou declamando o diário da Républica precedido por simpáticos sinónimos do dicionário de calão, da mais recente edição do Norte e paralelismos ao ministério das facanças.
Mais vale sermos nós a dar música... Mal por mal, é mais agradável e muito mais divertido - oh yeah carago! Ai, carago não, carago!
Abraços,
AMR
http://www.alvaromrocha.com
olá
gostei muito da teoria do reverse do AMR.
quando é suposto fazer uma gracinha para o dono, não fazendo, estou a fazê-la!
porque é que o meu dono não percebe uma coisa tão elementar?
slap's
Obrigado pela visita lá no nosso BurgoBlog,,,,, aqui está tudo em familia e isso é espectáculo,,,,
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