Existe cor em quase tudo o que nos rodeia e não há maior diversidade de cores do que aquelas que encontramos na natureza, mas se experimentarmos perguntar a qualquer pessoa qual a sua cor favorita, a preferência recai sobre o azul. Na minha opinião, esta unificação em torno do azul nasce com a introdução em massa da ganga (hoje diz-se jeans) no nosso vestuário. Na década de setenta ganga era a peça essencial do vestuário da maioria dos jovens, calças, coletes, blusões, camisas e até ténis, havia de tudo e todos usavam. A ganga era inevitavelmente azul ou branca e as
grandes marcas do meu tempo era a Levis Strauss, Lee, Wrangler, isto apenas citando as de que tenho memória. A verdade é que essa moda perdurou até aos nossos dias e ainda hoje a ganga faz parte integrante do vestuário de muitos de nós nem que seja aos fins-de-semana. Acredito que seja por este factor que o azul se tornou a cor dominante nas preferências de tanta gente. E as outras cores?Já muitas vezes reflecti sobre os motivos que nos levam a gostar mais de umas cores do que de outras, em parte será instintivo, mas acredito que certos factores exteriores nos podem induzir a gostar de cores que até então nos passavam completamente despercebidas. Será? Ou isso só acontece comigo?
Norma geral gosto de cores vivas, cores alegres que simbolizem vida e luz, maneira de ser. Entre os meus tons favoritos estão os pastéis e o branco. Gosto de fazer contrastes entre outras cores e o branco. Mas confesso que actualmente adoro o amarelo…
Tudo começou em 1991, início de um dos piores períodos da minha vida quer a nível sentimental quer a nível económico. Depois de ter sofrido inúmeros revezes da sorte e de ter perdido a confiança em pessoas que julgava serem a toda a prova, confesso que subsistiu uma imensa amargura e um total desinteresse por quase tudo. Dividia os meus dias entre o trabalho, tratar da vida
doméstica, ler e ver televisão, na maior parte das vezes por volta das 21h estava na cama onde procurava ler qualquer coisa e sonhar com dias melhores. Lembro-me que estava a ser doloroso. Para fazer face a determinadas despesas vi-me na necessidade de me desfazer de parte do equipamento que possuía, guitarras e amplificadores maioritariamente. Fiz vários negócios, através de um amigo que tinha muitos conhecimentos, alguns mais lucrativos
do que outros confesso. Um dia, a propósito da venda de um amplificador de estimação, o tal amigo apareceu na minha casa com uma proposta de um comprador: o fulano pagaria uma grande parte em dinheiro e outra com uma guitarra. O dinheiro fazia-me falta e uma guitarra é relativamente fácil de vender, por isso senti-me tentado a aceitar. Só que havia um ligeiro problema, a guitarra era amarela, não um qualquer amarelo mas quase fluorescente. Na verdade a cor é denominada Desert Sun Yellow e a marca Ibanez. Aí recuei um pouco, o amarelo, confesso, não era na altura uma das minhas cores de
eleição, aliás nem lhe ligava nenhuma, diga-se em abono da verdade. Vendo-me vacilar no negócio, o meu amigo abriu o estojo da guitarra e lá estava, sobre
fundo totalmente preto aquela coisa amarelo brilhante. O meu amigo disse-me – “Olha fica com ela uns dias para ver se gostas, se não gostares pensamos noutra solução”- a verdade é que o instrumento ficou.No dia a seguir à conversa lá decidi dar uma olhadela ao instrumento. Na verdade aquele amarelo vivo sobre o fundo negro cativou a minha atenção, nem sei bem porquê, talvez o contraste. Comecei por inspeccionar as madeiras, depois as partes mecânicas e finalmente a electrónica e os acabamentos, tudo irrepreensível. Toquei um pouco
com ela desligada para ouvir o som das madeiras e finalmente liguei-a ao amplificador. A verdade é que fiquei totalmente impressionado com a guitarra e graças a ela voltei a sentir-me vivo. Acabei por concretizar o negócio e desde aí não mais parei de tocar naquela guitarra amarela. Alguns meses mais tarde voltei para a música em termos profissionais e a minha guitarra amarela tornou-se uma imagem de marca que dura até aos dias de hoje, de tal forma que se alguém aparece com uma guitarra amarela todos pensam que fui eu que emprestei a minha. A minha Lady DY é o meu cartão de visita e graças a ela tenho tido momentos inolvidáveis, o carinho que sinto por ela é do tamanho do mundo tantas coisas vivemos juntos. Nos momentos mais duros e solitários foi tocando nela que ganhei forças, nos momentos mais felizes foi tocando nela que festejei, em
parte, esta guitarra representa a minha vida. Já tive muitas guitarras, umas foram e outras vieram, algumas ficaram outras não. Hoje tenho apenas dez, mas de todos eles a número um é a minha Lady Dy o meu único e verdadeiro primeiro amor. Graças a ela aprendi a gostar de amarelo e hoje adoro coisas amarelas, mais do que roupas. A vida tem destas coisas, pequenos nadas transformam muito a forma como vimos ou gostamos do que nos rodeia. Hoje sei que o ano de origem da minha guitarra é 1987 que se trata de um modelo de sucesso à escala mundial e que a marca lançou agora um instrumento
rigorosamente igual em edição especial. Trata-se da Ibanez RG550DY, série limitada com estojo em amarelo igual à guitarra. Penso que vou ficar com uma para mim, mas vou precisar de dois estojos he he he.





















com uma canção na qual participo e da qual gosto muito.






















