…Onde estiveres sempre haverá muitas guitarras…
A frase é do Van Dog mas nada de mais verdadeiro podia ter sido dito.
Há muitos anos num pátio estava um velhote com uma guitarra de fado e numa outra cadeira um garoto de seis anos matraqueava uma viola. O velhote era o meu avô e o garoto era eu. Foi deste modo que começou a minha paixão por guitarras, paixão essa que nunca mais me abandonou. O meu avô só sabia dois acordes e repetia-os incessantemente, eu não sabia nenhum mas fazer barulho com as cordas sabia muito bem he he he.
Por volta dos meus 8 anos descia a Rua do Carmo com a minha mãe e bem no final da rua existia uma loja de instrumentos, a Pompeu Machado. Foi nessa loja que vi a minha primeira guitarra eléctrica, era toda negra, linda, só muitos anos mais tarde soube que se tratava de uma Gibson Les Paul, mas na altura tudo o que eu pensava é que queria uma daquelas para mim. Dois anos mais tarde fiz a minha estreia em palco na Colónia Balnear Infantil de “O Século”. Estive lá de férias e no final havia sempre uma festa com a participação dos miúdos. Nessa altura escrevi de cabeça uma canção que alguém passou para a viola e que eu cantei no espectáculo, chamava-se “Quero Mi Papá”, Porquê? Não sei. Foi então que dei a minha primeira entrevista para o jornal com o mesmo nome da colónia.
Quando tinha 16 anos comprei a minha primeira guitarra numa loja em Cascais. Eu já trabalhava e estudava na altura. Lembro-me que dei o ordenado de um mês e mais outro que o patrão me adiantou ficando a pagar o resto em seis meses, eu ganhava na altura 5 contos por mês, a guitarra custou 40 contos em 1975. O instrumento é uma Gallan, cópia de Gibson SG, que tinha 3 captadores e um tremolo, guitarra que ainda conservo apesar das inúmeras transformações que já sofreu.
A partir do momento em que comprei a guitarra comecei um processo de auto-aprendizagem a todos os níveis: aprender a tocar e descobrir como é que a ligava ao gira-discos para ter som eléctrico. O remédio foi ligar um fio à cabeça no lugar da agulha e voilá estava no mundo eléctrico não sem antes levar uns choques para abrir a pestana.
Em 1979 escrevi várias letras para uma banda de rock, os NZZN, uma delas que podem ouvir neste post, “Heavy Metal”, viria a ser incluída no álbum da banda, Forte e Feio. Paralelamente já tocava com bandas locais em projectos mais ou menos efémeros. Nunca mais deixei de tocar muito embora exercesse actividades paralelas: carpintaria, reparação de instrumentos e informática. Parecendo que não tem nada a ver, a verdade é que tudo isto teve um propósito, a construção de instrumentos. Em 1992 depois de ter tocado com vários músicos fui convidado para entrar para um projecto de gente muito mais jovem, inexperiente, que tinha três músicas alinhavadas. Algum tempo depois já tínhamos mais de 18 músicas. Foi um período prolífero da minha parte em matéria da escrita de canções. O grupo durou até 1994 e ainda alcançou um certo estatuto no meio musical. Foi nessa altura que recebi o convite para integrar os Oceanea do Tó Neto, projecto com o qual estive até 1997, incluindo uma breve passagem pela banda que acompanhava o Roberto Leal.
Abandonei o Tó Neto em 1997 para m dedicar ao jornalismo musical e até 2001 participei em concertos esporádicos, alguns deles com gente muito famosa internacionalmente, em 2002 toquei num espectáculo de aniversário da revista Promúsica e daí para cá nunca mais pisei um palco, afastando-me bastante da música, das guitarras é que não.
Até hoje mantenho cerca das 10 mais importantes guitarras em temos sentimentais, todas as outras foram vendidas. Sempre usei diferentes guitarras ao longo dos anos até que em 1987 um amigo me trouxe a minha guitarra amarela que se converteu no meu principal instrumento e aquele pelo qual fiquei mais conhecido. Desenhei e construí vários instrumentos, a Bonés a Templar são apenas dois exemplos que podem ver na foto, mas a verdade é que cada guitarra que usei conta uma história e com elas escreverei um dia um livro. Não sei viver sem guitarras por perto. Elas foram a minha companhia nos dias difíceis e nos dias felizes, com elas chorei mágoas e com elas celebrei alegrias. As guitarras são aquilo que de mais constante existe na minha vida. Mesmo que seja na forma de um relógio.
Deixo-vos um pequeno vídeo gravado num showcase numa discoteca e que teve este solo maravilhoso executado na minha Bones, uma guitarra que construí manualmente /e que podem ver na foto um pouco acima junto com a que tem uma cruz vermelha) e que é uma espécie de coroa de glória.
domingo, 14 de outubro de 2007
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13 comentários:
Um verdadeiro rockeiro!
(Adivinharás quem fui?)
Sim...as guitarras fazem mesmo parte da sua vida. O que o Van Dog disse é muito acertado!
Boa semana!
É pena que já não pises os palcos.
Acho que deves ter saudades, pois o carinho com que falas desse mundo, é muito.
As guitarras, parecem-me boas amigas tuas e penso que deverias mesmo escrever esse livro, e eternizar o teu intimo para que todos o pudessem sentir.
Beijos.
olá
eu gostava de dizer o mesmo , mas com ossos...
huuuummm aquela guitarra Bones parece apetitosa!
slap's
Afgane, parece que a tua vida está mesmo muito ligada a guitarras.
(Guitarra Bones, Marla? Mmmm...)
gato,
aqui para nós que ninguém nos lê, parece-me que tens algumas saudades do teu cabelo (com extensões)...
mas cada idade tem os seus encantos, tu sabes ;0)
montes de beijos da fã nº 1
Será caso para dizer que são só fados e guitarradas?!?!
Construír a própria guitarra deve ser algo fantástico...
Beijinhos
Passei só para dizer olá, já que há muito que não o fazia...
bjks
Allie,
Obrigado por apareceres com roupa nova
beijos
Carracinha,
É verdade eu sem guitarras não sei viver.
beijos
Pandora,
É verdade que sito saudades dos palcos, mas pode ser que regresse em bre. Quanto ao livro está na ideia vamos a ver o que sai.
beijos
Marla,
pode ser que eu arranje uns ossitos para ti.
beijos
Van Dog,
A minha vida sem guitarras não é vida.
Abraço
Kuska,
Ai a minha trunfa comprida que saudades. Extensões? é capa de ser uma boa ideia para a actualidade. Mas também gosto de mim como estou.
beijos
Lurdes,
Adoro construir guitarras, desenhá-las, experimentar e trabalhar madeira.
beijos
Su,
Gostei de te ver por cá
beijos
és daqueles que quando morrer pode dizer: fiz tudo o que podia e estava ao meu alcance para ser feliz. e fui!
certo?
ou falta alguma coisa?... nunca li um post teu sobre filhos... tens?...
beijinhos!!
(foi bom ler-te, mais uma vez)
Bolas...
Agora fiquei com saudádes da minha guitarra. Era uma imitação de uma Fender Stratocaster mas na altura era puto e não tinha guita para mais...
Vendia a para comprar uma Fender ou uma Ibanez preta com o sistema tremolo. Nunca toquei nada de jeito mas isso também não interessa nada... O que queira era "derreter" as cordas com o tremolo :)
Acabei por nunca a comprar nem o raio do amplificados Marshall a valvúlas...
Bem mas há sempre o próximo Natal :)
Um abraço,
Então... fugiste atrás de mais uma guitarra? Ou estás a escrever o livro?
Beijos.
Tatoia,
Posso dizer que já fiz um pouco de tudo, pelo menos das coias que queria fazer. É certo que nem todas correram como eu queria ou gostaria, mas fiz e isso já por si constitui uma vitória. Se morresse amanhã morreria em paz pois tive uma vida e fiz coisas que muitos só sonham e nunca concretizam. Quanto ao filhos tenho dois que adoro.
Beijos
Blade,
Com que então tocas guitarra e não me tinhas dito? Bem vindo ao clube dos músicos.
Abraço
Pandora
Peço desculpa pois tenho anadado meio ocupado, mas felizmente a partir do próximo fim de semana estarei mais liberto e volto a visitar mais assíduamente os vossos espaços e a comentar como é meu costume.
Beijos
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