sexta-feira, 27 de abril de 2007

A minha vida são muitos livros

Quando penso nos livros da minha vida concluo que foram muitos e diversificados no seu conteúdo. Até aos nove anos de idade devorei os infantis, juvenis e alguns tratados de filosofia pelo meio…rsss isto já para não falar da banda desenhada do Major Alvega, o Mandrake e Luís Euripo. Lembro-me que lia a qualquer hora ou lugar. Mais tarde vieram os super-heróis da Marvel, Super-homem, Homem Aranha e seguintes. Passei muita noite a ler e a escrever, na manhã seguinte levantava-me e seguia para a escola como se tivesse dormido. Fui sempre bom aluno (excepto a matemática), se tirasse um catorze ou quinze a Português ou História ficava furioso pois significava que baixara a nota.
Sempre li, escrevi e desenhei muito e os livros contribuíram para o meu desenvolvimento em todos os sentidos. Livros houve que foram mais importantes do que outros visto por certa perspectiva, mas todos eles foram manuais de aprendizagem agora que os vejo à distância. Até mesmo aquela literatura de cordel, os livros de cowboys, as foto novelas da Corin Tellado, tudo isso eu lia, era uma fome ávida por conhecimento.
A minha quarta classe foi feita na Rua das Trinas, Madragoa. Uma escola pública igual a muitas outras mas que tinha uma particularidade: para podermos almoçar tínhamos que pertencer à Mocidade Portuguesa que ficava na Borges Carneiro junto da antiga Emissora Nacional. Na verdade bastante perto da escola. A título de curiosidade recordo-me que foi lá, naquela cantina que conheci o meu primeiro personagem famoso e até tive direito a um autógrafo. Tratou-se do então famoso toureiro José Júlio. Recordo-me porque ele desenhava um touro e assinava por baixo. Mas voltando ao assunto. Ingressado na Mocidade tive direito a frequentar tudo o que de bom aquela instituição tinha para oferecer: várias modalidades desportivas que incluíam o remo e a esgrima, teatro, cerâmica e até (naquele tempo) aeromodelismo. Esta instituição (não obstante ser militarista) possuía instalações e condições que fariam inveja a qualquer colégio privado dos nossos dias, mesmo aos melhores e era pública. Existem certas coisas que a nossa democracia podia ter recuperado pelo menos em prol da cultura. Ingressei no teatro pois sempre gostei de representar. Aí tomei contacto com a Nau Catrineta, Gil Vicente (que adoro) O Auto da Barca do Inferno, peças que representei. Na altura auspiciaram-me uma boa carreira como actor, mas infelizmente eu tinha um lado de mafarrico e raramente resistia a ele. Durante os ensaios da Nau Catrineta nós usámos dois bancos um em cima do outro para simular o mastro do navio e no topo dos bancos estava um colega meu, não resisti, quando ele começou a dizer…”Lá vem a Nau Catrineta que traz muito que contar…” o meu pezinho empurrou os bancos e o pobre estatelou-se no chão enquanto eu gritava – homem ao mar – e esta foi a primeira advertência. Depois veio Gil Vicente, eu era o primeiro cavaleiro e entretinha-me a picar toda a gente com a ponta da espada…rssss segunda advertência. Mais tarde durante uma peça sobre D. Juan, o colega que representava o papel estava em palco junto ao acesso para os bastidores, representava com ambos os braços abertos e mãos abertas viradas com as palmas para cima. Eu olhava para aquilo enquanto de soslaio me apercebi de uma cesta com ovos ali perto (adereço de uma outra peça). Não demorei muito tempo a idealizar uma partida e a pregá-la: peguei num ovo e coloquei-o na mão do pobre colega que representava…rsss ele lá se foi equilibrando com o ovo na mão até ao momento em que tinha que cerrar os punhos e pegar na espada…rssss ainda me rio hoje ao recordar o ovo partido escorrendo pela sua mão abaixo…rssss toda a gente a rir e eu estraguei a minha promissora carreira sendo expulso do teatro, comediante incompreendido foi o que foi. Depois fui para cerâmica e aeromodelismo.
Ainda nessa época através de um familiar fui exposto à religiosidade, sessões de espiritismo e tratamentos com rezas, tinha os meus 10 anos mais ou menos ou onze já não me lembro bem. Sei é que passei por um período que tinha visões e que cheguei a tratar e curar pessoas (não me perguntem como). A verdade é que as pessoas não paravam de me procurar e tudo aquilo me assustou, felizmente mudámos para Cascais e cortei com tudo isso. Mas esta parte da minha vida trouxe ao de cima o meu misticismo e levou-me a ler o Corão e a procurar as doutrinas orientais. Na verdade sou cristão (Não é católico). Na verdade há coisas que não se explicam como por exemplo a minha identificação com aquelas figuras de cavaleiros de túnica branca com uma cruz vermelha. O meu código de conduta muito semelhante ao dos Templários, nada disso me foi ensinado eu sempre fui assim. Mas adiante.
Pouco antes de virmos para Cascais o meu pai, devido a uma injecção estragada, paralisou da cintura para baixo e a minha mãe ficou com o fardo de criar quatro filhos. Ela trabalhava 16h por dia movida a cafés e eu tomava conta dos meus irmãos. Mesmo assim, ainda com 10 anos, numa curta estadia na Colónia Balnear Infantil de O Século fiz a minha primeira letra e música que participou no espectáculo de encerramento da férias e me deu a oportunidade de dar a minha primeira entrevista para um jornal. A letra foi extremamente simples, ainda me lembro dela. Para mim era fácil, ainda é, escrever poesia sempre o fiz desde muito novo. A música ainda é mais fácil: desde pequeno que escuto música na minha cabeça basta-me tirá-la para fora, naquele caso assobiei a música e um jovem que tocava guitarra acompanhou-me.
Durante diferentes períodos da minha vida li e aprendi sobre equitação e cavalos, cinema e Indústria Hoteleira, nesta última tornei-me profissional. No meu percurso laboral que começou cedo fui parar ao programa Ensaio da RTP. As instalações da empresa eram paredes-meias com um jornal de música, O Musicallissimo (Primeira edição de 1970). Neste jornal trabalhava um cantor também jornalista que estava a finalizar um disco: “Até Ao Pescoço” de José Jorge Letria. Fui entrevistado por ele a propósito do filme Help dos Beatles (esta parte a minha amiga Teresa vai gostar…rssss). Foi também a trabalhar para o Ensaio que fui entrevistado pela primeira vez em televisão. Lembro-me que foi relativo a um programa sobre a Biblioteca Condes de Castro Guimarães de Cascais.
No seguimento de tudo isto e como a música fazia parte da minha vida comecei a adquirir livros técnicos sobre música e instrumentos ampliando os meus conhecimentos nesta área. Infelizmente não havia títulos em português e virei-me para a importação. Graças a um professor que tive na terceira classe cedo tomei contacto com a língua inglesa, isto porque ele prometeu ensinar uma canção em inglês no final de cada aula se nos portássemos bem. A primeira canção que aprendi foi “My Bonnie Lies Over The Ocean, ainda hoje a sei de cor. Sempre tive um jeito muito grande para línguas e aprendi inglês com os filmes e com os discos, depois complementei com os livros a parte da escrita. Tudo isto servir-me-ia no futuro para fazer traduções.
Passaram-se alguns anos em que parecia que iria estagnar, mas por volta dos meus 24 anos iniciei uma busca por temas mais técnicos quer em termos de electricidade quer de electrónica e tudo isto relacionado com guitarras. Graças a estes conhecimentos trabalhei numa loja como reparador de instrumentos e dei os meus primeiros passos como construtor. Trabalhei ainda como carpinteiro 2 anos para aprender a conhecer as madeiras e as técnicas, pelo caminho aprendi a fazer móveis e graças aos livros sobre o assunto fiquei a conhecer as árvores e os tipos de madeira para os meus propósitos. Nesta altura eu estava num relacionamento de grande importância para mim e que também me trouxe estabilidade. Durante este período escrevi letras para bandas, algumas tornaram-se músicas e foram editadas em disco. Nesta fase eu vivia com a minha mulher, sogra e cunhado. Éramos uma família unida e feliz. O meu cunhado andava a estudar sistemas digitais no Isel queria ser engenheiro. Éramos como irmãos, o meu cunhado é uma dessas pessoas que consegue juntar a inteligência, a habilidade, o método e a concretização. Juntos partilhávamos a electrónica e a música. Ele bem tentava que eu me interessasse por computadores, mas eu não me entusiasmava muito com as novas tecnologias na época. O meu cunhado entrara para uma empresa subsidiária da Hoechst Portuguesa, na qualidade de técnico de computadores. Eles importavam e comercializavam equipamentos e o meu cunhado era o responsável técnico trazia toneladas de manuais para casa. Ele só tinha um problema: línguas eram o seu pesadelo, não percebia nada. Combinámos então que eu traduziria com a ajuda técnica dele, todos os manuais e informações que ele recebesse, isto sem que ninguém soubesse. Foi assim que aprendi sobre computadores, a mexer-lhes e a repará-los. Não tardou muito que me juntasse ao meu cunhado na dita empresa como técnico. Depois fui chefe de assistência técnica, especialista de produto e gestor comercial. Entre 87 e 1992 estive ligado à informática e ao começo dos telemóveis quer como técnico quer como comercial ou acumulando as duas vertentes.
Em 1992 fundei com um grupo de rapaziada mais jovem os Moloc, toquei com eles até 1994 altura em que integrei o projecto Oceanea do Tó Neto. Foi também durante este ano que descobri a astrologia, quiromancia, esoterismo e a minha aproximação ao estudo dos Templários enquanto ordem e presença em Portugal, Convento de Cristo em Tomar e Castelo de Almourol são território sagrado para mim, lá retempero as minhas forças sempre que posso. Foi ainda neste ano que a São entrou na minha vida e com ela o JL (Jornal de Letras); os pintores e a pintura, novos horizontes literários, temáticos, novos sabores e perfumes, uma cumplicidade que dura até hoje nesta profunda amizade. Em 1998 fomos buscar dois cães, galgos afegãos, uma raça que eu conhecera através da São que teve um que eu conheci e me fez apaixonar pela raça. São os cães mais gatos que conheço e eu adoro felinos. Rapidamente me muni de livros sobre a raça e em breve falava com os especialistas tu cá tu lá. Na verdade aprendi muito sobre os cães em geral. Durante este período ainda dei apoio comercial e marketing a uma loja de importação de instrumentos triplicando as vendas desta em seis meses. Por volta de 1997 ingressei como jornalista e especialista de instrumentos na Revista Promúsica só saí em 2002 altura em que a publicação faliu, já eu era chefe de redacção.
Certos livros ficaram-me no coração como Esteiros de Soaeiro Pereira Gomes, O Princípe de Maquiavel ou Fernão Capelo Gaivota de Richard Bach, mecionar todos levaria mais de 20 páginas.
Existem muitos mais exemplos mas creio que estes são suficientes para passar a mensagem de que: Tudo o que sou o devo aos livros.
Posso não perceber nada sobre um assunto, mas se existir um livro sobre isso eu torno-me perito.
O que seria a minha vida sem os livros? Quando ela própria é um imenso livro de muitos capítulos escritos, alguns inacabados e muitos outros por escrever.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

O casamento perfeito

Depois do meu último post resolvi falar de um outro aspecto dos relacionamentos, chamemos-lhe o passo seguinte visto pela perspectiva masculina. Todos nós conhecemos um dia alguém especial, aquela pessoa que julgamos ser a companhia ideal para a vida inteira, por muito curta que ela possa ser. Em mais de 50% dos casos escolhemos a pessoa errada, mas isso só descobrimos depois de casados…rsssss. Mas enquanto não descobrimos aquela é a mulher ideal, ela é tudo com o que sonhámos e muito mais. A mulher nem sempre acha isso, para ela somos quase perfeitos e só precisamos de uns retoques que elas facilmente resolverão alterando-nos por completo e se não conseguem dizem que as enganámos.
Tudo começa a complicar-se quando depois do conhecimento prévio e de uns dias maravilhosos resolvemos dar o passo seguinte, o namoro. Oferecemos presentes, abrimos a porta do carro, tudo é doçura e o amor paira no ar. Passeios à beira mar, restaurantes, todas aquelas coisas que as mulheres gostam. Chega o dia em que sem reflectirmos muito resolvemos comprar um anel caríssimo e pedir a mulher em casamento. É uma alegria, a festa que se avizinha a despedida de solteiro e tudo corre sobre rosas. O casamento é aquela coisa que a gente faz num único dia e levamos o resto da vida a arrependermo-nos…rssss. Mas depois do casamento vem a renda da casa, os encargos e os filhos… acaba-se o sossego do homem. Nesta fase começa a mulher com as suas reclamações de que é uma escrava, o marido nunca faz nada e se faz não é suficiente, a família dele intromete-se a toda a hora, ele só quer sair com os amigos, ela afirma que já não gostamos dela e tudo o mais. Até parece que ela casou com outro homem que não nós.

As mulheres nunca se esquecem de nada daquelas coisas que para nós não são muito importantes: aniversário do dia em que nos conhecemos, do pedido de casamento, do acto em si e por aí fora. Ora sejamos objectivos o que é que isso interessa? Já é complicado lembrarmo-nos dos aniversários dela e dos filhos, do jogo de futebol entre o Porto e o Benfica que é na 10ª Jornada e ainda dos nossos programas de TV favoritos quanto mais dessas datas.
Aos poucos a discordância entre o casal é cada vez maior e as incompatibilidades também, em muitas situações chega a existir infidelidade e tudo. O remédio é um conselheiro matrimonial que na maior parte das vezes é um mero gasto supérfluo que não ajuda coisa nenhuma.

A solução final é o divórcio com tudo o que isso implica pois a mulher sai sempre a ganhar, quem fez as leis foram certamente mulheres.
Depois dessa má experiência o homem que não gosta de viver sozinho, até porque já não está habituado, arranja um animal de estimação e fica-se por ali durante uns tempos.


O pior é que as mulheres são um vírus que nos entra no sangue e não conseguimos viver sem elas e na maior parte das vezes a história repete-se. Imagine-se que por vezes até resulta e tem final feliz contrariando a estatística que diz que há cada vez mais divórcios. Mas afinal porque casamos nós? Aí está uma resposta que ainda não descobri.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Um Amor de Quarentões

Tenho ouvido muitos comentários e afirmações sobre o amor depois dos quarenta e isso levou-me a reflectir um pouco sobre o assunto. Uma das conclusões a que cheguei é que os sites que promovem todo o tipo de encontros estão saturados de gente. Quase todas as pessoas mencionam a palavra amizade como principal objectivo para estabelecer um contacto e acabam a falar da sua imensa solidão. Será que depois dos quarenta não temos futuro no campo dos relacionamentos mais profundos?
Ao longo dos anos fui ouvindo comentários sobre os quarenta anos, uns mais pessimistas relacionados com a velhice e outros afirmando que depois dessa idade é que verdadeiramente apreciaríamos a vida. No meu caso pessoal não noto qualquer diferença no antes e depois: gosto da vida e ponto final. Não sinto que tenha mais juízo do que o que tinha anteriormente (que não era muito…rssss), sinto-me mais maduro na forma como encaro as situações mas bastante imaturo na forma como as resolvo pois após resolver, passado algum tempo, chego à conclusão de que tinha melhores opções…rssssss. Acho que isto é viver.
Após entrar num clube da amizade on-line fui conhecendo pessoas e tomando contacto com outras realidades. Apercebi-me da imensa solidão que se depreende das inúmeras conversas que surgiram, independentemente do assunto sobre o qual falei com todas essas pessoas. Será que depois dos quarenta perdemos a capacidade de amar? Será que deixamos de acreditar nos relacionamentos amorosos? Perderemos nós a capacidade de nos apaixonarmos e fazermos todas aquelas loucuras inerentes? Eu acho que não. Um dos factos que verifiquei é que aos 40 muitos de nós já têm certas prioridades perfeitamente supridas, a casa, o emprego, carreira e equilíbrio financeiro (suportável…rsss). Muitos de nós têm animais de estimação e um reduzido círculo de amigos seleccionados ao longo dos anos. Raramente fugimos das rotinas que nos impusemos e com as quais nos sentimos confortáveis e encaramos relacionamentos novos com alguma desconfiança. No fundo queremos preencher a nossa vida sentindo um grande amor, queremos que funcione, mas não queremos abdicar de nada do que já alcançámos. Claro que isto funciona para os dois lados. Partilhar uma casa só em moldes independentes, cada um fica com a sua, até por segurança, e vive-se uma meia vida em cada uma das casas ou uma vida a dois na casa de um, mas o dono da casa tem o privilégio de mandar um pouquinho mais. Em muitos casos o relacionamento é um prolongado namoro que se mantém em banho-maria, por tempo indeterminado, até que um ou ambos se fartem e cheguem à conclusão de que aquilo não vai a lado nenhum.


Quase todas as pessoas que vivem sós muito tempo tornam-se um pouco egoístas e auto suficientes. Na maior parte dos casos que conheço todas essas pessoas possuem um amigo ou amiga bastante íntimos em quem confiamos plenamente e com quem dividimos muito do nosso tempo. São pessoas da máxima confiança a quem contamos a nossa vida toda e partilhamos quase todos os nossos momentos. Não existe nada de físico entre nós é mais do tipo platónico, na verdade temos medo que se mais alguma coisa acontecer essa amizade venha a acabar da mesma forma que muitas pessoas que foram importantes na nossa vida já desapareceram há muito do nosso convívio e nem se lembram de nós.
Será que o futuro dos quarentões é um pc com microfone, uma webcam e uma linha de Internet? Então e os passeios pelas ruas para ver as montras? Um passeio pelo jardim, a ida aos museus, o lancezinho à beira mar? Onde é que a Internet nos dá tudo isso? Ficamos satisfeitos quando o outro lado da net nos conta um monte de coisas que nem temos a oportunidade de verificar in loco? E o prazer de nos vestirmos para impressionar? E o maravilhoso jogo da sedução, os olhares, os gestos, os cheiros, o jantar à luz das velas, o presentinho ou as flores, onde é que fica tudo isso?
O que nos resta? O marasmo? Envelhecermos gradualmente à espera que algo de maravilho nos aconteça, mesmo sabendo que se tal acontecer nós estaremos tão de pé atrás que seremos bem capazes de nem dar por isso?
Não há regra sem excepção, mas infelizmente pelo que constato as excepções são poucas. Vamos lá quarentões nós somos humanos, somos feitos para amar não para nos tornarmos eremitas prisioneiros da própria tralha que acumulámos ao longo dos anos, nem para ser escravos das rotinas que criamos para dizer que temos a vida organizada.
Como o título de um CD do Paulo Bragança que adoro digo apenas: AMAI

domingo, 22 de abril de 2007

Os filhos, o pai e alguém muito especial

Andava já há algum tempo para escrever um post sobre os meus filhos. Não queria de modo algum que parecesse um daqueles retratos de família ultrapassados, nem queria uma coisa lamechas. O meu objectivo é homenagear os filhos que tenho e que não obstante os defeitos (que são muitos…rsss) acho-os maravilhosos (pai babado…rssss).








O sonho dos meus filhos começou há muitos anos era eu apenas um garoto. Tudo o que eu queria da vida era construir uma casa e plantar uma árvore (leia-se ter um filho). Na verdade o meu desejo era ter dois filhos, um rapaz em primeiro lugar e uma menina depois. A ideia era praticar a paternidade com o rapaz pois a sua educação é mais solta (pensava eu…rssss) e depois já com prática ter então a menina que requer mais cuidados, mais atenção. Pois Deus fez-me a vontade, primeiro veio o Remi (24 anos) e depois a Susana (14 anos).

A casa também a construí, infelizmente por pouco tempo pois a vida tem destas coisas. Por inexperiência e imaturidade não cuidei tanto do Remi quanto devia, situações como mudar as fraldas e dar-lhe banho passaram-me ao lado e eu é que perdi pois essas pequenas tarefas geram laços inquebráveis entre nós e os nossos filhos, mas fora isso procurei estar o mais próximo dele possível, mesmo sem muita paciência por vezes. O Remi sempre foi uma criança calma, meigo e muito senhor do seu nariz, talvez por ser do signo Peixes, muito embora seja retorcido pelo lado do ascendente que é Gémeos. Ele nasceu a 14 de Março quatro dias antes do meu aniversário. Desde muito cedo que tem uma paixão pelos bombeiros e hoje está integrado numa corporação.
Há dois episódios da infância dele de que me recordo em particular: em bebé ele adorava ouvir música (ainda hoje adora) e corria para um velho gira-discos que eu tinha gritando “Muca! Muca!” ora esse aparelho estava num móvel que ficava bem acima da cabeça dele, na ânsia de ligar o aparelho ele puxava o botão com tanta força que este passava-lhe sobre a cabeça e caía com enorme estrondo no chão. Felizmente nunca o apanhou e esse aparelho, mesmo desconjuntado, durou imensos anos. A segunda história prende-se com a questão adormecer o menino. Na verdade eu ia para a cama com ele para fazer a tradicional sesta que as crianças detestam…rssss mas eu fazia questão. Depois de deitados, eu quase sempre adormecia e ele ao ver-me a dormir saltava por cima de mim e ia ter com a avó à sala “…já adormeceste o pai meu netinho?...rssss” as avós são umas pestes.

Quando a Susana nasceu a minha idade e maturidade eram bem diferentes e senti que com ela teria uma segunda oportunidade. Desta vez iria fazer tudo o que não tinha feito com o Remi. A Susana nasceu a 5 de Setembro e é uma Virgem com ascendente Peixes. Cuidar dela foi uma das partes mais gratificantes da minha vida. É curioso como tratarmos de um bebé pode ser uma experiência maravilhosa e que recomendo vivamente. Isto não obstante os sobressaltos constantes devido há imensa energia destes pequeruchos. A Susana sempre foi uma criança muito viva, os seus olhitos captavam tudo e via-se nela uma curiosidade insaciável. É a minha patareca. Tem um humor fantástico e um génio terrível. Imaginem que um dia estava o irmão brincando com uns bonecos no chão da sala. A Susana foi por trás dele, pé ante pé, de mãozitas atrás das costas e num ápice deu uma palmada na bonecada toda e saiu correndo na minha direcção gritando “Ó pai o Remi quer-me bater!”. Eu por acaso estava numa posição que me permitiu ver toda a cena e claro, amante da justiça e da disciplina como sempre fui tive que a castigar, nunca bati nos meus filhos. Ordenei-lhe imediatamente que pedisse desculpa ao irmão enquanto eu ia pensando na forma de castigo. Claro que ela pedir desculpa é que nunca, sempre teve um génio muito forte é enxertada em corno de cabra…rsssss. Posto isso castiguei-a obrigando-a a ficar sentada num sofá sem sair dali até que pedisse desculpa ao irmão. Ela sentou-se e pediu-me se podia ficar com uns cubos para brincar no que eu anuí dizendo-lhe que se os cubos caíssem ela não se podia levantar para os apanhar nem ninguém os apanharia para ela. Ela só se levantaria se pedisse desculpa ao irmão. O tempo foi passando e como é óbvio os cubos caíram. Ela bem tentou arranjar maneira de se levantar ou que alguém os apanhasse mas eu mantive-me irredutível na minha decisão. Meia hora mais tarde ela já dava sinais de impaciência e ai disse-me: “Se eu pedir desculpa posso sair?” eu disse-lhe que sim. Ela num fio de voz quase inaudível murmurou um desculpa forçado… disse-lhe que não tinha ouvido nada. Nova tentativa, muito baixinho, eu continuei a dizer que não ouvia nada, ao fim de mais tentativas saiu um DESCULPA de raiva e frustração por ter sido obrigada a dizê-lo…rssss a minha patareca é mesmo assim…rssss. Ela era muito engraçada, tal como o irmão nunca mexeu em coisa alguma minha que não estivesse autorizada, mas arranjava meios curiosos de tentar. Ambos os meus filhos foram avisados que nas minhas guitarras não mexiam e sempre cumpriram, mas a Susana chega em frente delas e apontado com o dedito virava-se para mim e dizia: “Pai, nas bitarras não se mexe pois não!?”…rssssss.
Em 1994 a São entrou na minha vida e auxiliou-me muito no aspecto de ser um melhor pai. Foi graças a ela que me apercebi de inúmeras lacunas que procurei preencher. A São tem um enorme jeito com crianças e uma grande sensibilidade, é uma Virgem com ascendente Peixes de 1 de Setembro, isto para além de não descurar qualquer aspecto educativo e ter a capacidade de apresentar firmeza quando tinha ser mas também incentivar e apoiar nos momentos em que tal acção era requerida. Através da São cresci como pai e até como ser humano. A São é uma daquelas pessoas que tem a capacidade de ver para além das coisas e de descobrir aquilo que mais ninguém descobre, quase sempre coisas muito originais. O engraçado é que ela é uma dessas pessoas low profile que entra numa sala passa por toda a gente de forma discreta mas deixa uma impressão tão forte que todos reparam nela e jamais a esquecem. Não ficaria em paz com a minha consciência se a não incluísse neste post, muito embora reconheça que por tudo o quanto ela fez e faz por mim ela merecia muito mais do um post, um blog inteiro e além de tudo o mais é a mãe dos meus cães…rsssss
Como nota final quero deixar um episódio que aconteceu quando o Remi tinha cerca de seis ou sete anos. Falávamos várias vezes sobre o futuro e eu procurei sempre ensinar aos meus filhos que A Vida Tem Consequências Que Resultam das Nossas Acções e Somos Afectados Por Elas, se agirmos bem as consequências serão boas, mas se agirmos errado estas serão menos boas. O Remi queria ser veterinário, sempre teve um grande gosto por animais em especial os cavalos, um dia perguntou-me o que é que eu queria que ele fosse quando crescesse… pensei calmamente ante de responder. Disse-lhe o mesmo que continuo a dizer a ambos os meus filhos: Quero Que Sejam Felizes!! Eu gostarei sempre deles sejam o que forem, são meus filhos.

Vou viver para o campo...

Estou farto da cidade!
Estou cansado do trânsito, das pessoas que se atropelam a troco de nada… muros de cimento armado que condicionam a minha visão, rostos que não me dizem nada. Sinto-me oprimido e por mais que me digam que o progresso é sinónimo de vida melhor, sinto-me viver cada vez pior. Quero acordar com o céu limpo e um sol de ouro, ouvir os pássaros pela manhã fresca e olhar o mar de verde dos campos. Quero ver as nuvens brancas e não amareladas pela poluição da cidade. Quero dizer bom dia e boa tarde a toda a gente, cumprimentar e ser cumprimentado. Quero conhecer todos os rostos e mesmo que seja por mexericos quero que falem de mim. Sinto o cansaço de ser mais um rosto numa multidão anónima que busca a felicidade mas dificilmente a alcança.



Olhamos muitas vezes para trás em busca de referências ou para fazer uma síntese do que fizemos e do que somos. Olhamos para trás em busca daquele eu que sabemos existir mas que está cada vez mais condicionado pela sociedade em que vivemos. No fundo o olhar para trás pode ser o primeiro passo em frente das nossas vidas.
Sinto-me perder tempo aqui no lugar onde vivo. Cascais mudou muito nestes anos em que estive ausente. Agora tudo fica mais longe pois para tratar seja do que for temos, inevitavelmente que ir de carro. Estacionamentos só a muito custo se conseguem, filas de trânsito são o pão-nosso de cada dia, vive-se melhor em Lisboa do que aqui. Aliás, temos que ter em consideração de que se trata de uma vila turística e nos fins-de-semana ainda levamos com os tristes do passeio de carro familiar que comporta a marginal, Boca do Inferno, Guincho e Sinta. Não adianta falar que tal passeio gera filas intermináveis de trânsito e que no final se fica mais exausto do que ficar plantado num qualquer jardim lisboeta como o Jardim Botânico na Ajuda. Mas qual quê, Cascais e Guincho é que são coisa fina e vamos lá cambada!
Já não há pachorra para aturar chefes idiotas que vivem em função do status e cuja cultura cabe numa casca de noz. Gente que vive o consumismo imediato e que faz alarde disso como se o poder de compra fosse bacharelato de estatuto social, de nível de educação ou cultura. São uns tristes e frustrados idiotas que procuram com os cartões de crédito cobrir os seus complexos de inferioridade.
Estou farto!!!
Decidi-me, vou viver para o campo. Ali próximo das Caldas da Rainha existe uma aldeia chamada S. Gregório que é um maravilhoso recanto do mundo. É ali que penso edificar a minha casa e viver o resto dos meus dias longe da confusão. Já escolhi até a casa e vi alguns terrenos que ficam a um preço incrivelmente baixo. Parece mentira que a alguns quilómetros de Lisboa se possa ter uma qualidade de vida a todos os níveis, coisa que para os citadinos parece uma miragem.
Apesar de aquele lugar ser um paraíso não vou recomendar que vão para lá pois se fossem, S. Gregório deixaria de ser o meu paraíso para ficar sobrelotado e eu teria que procurar outro lugar para viver…rsssss

Southern Rock amado e detestado, mas diferente...

Não estava nos meus planos escrever outro post em tão curto espaço de tempo face ao anterior, mas não consegui resistir. Andava por acaso a escolher músicas para ouvir e deparei-me com Lynyrd Skynyrd (pronuncia-se Leh-nerd Skin-nerd), não consegui resistir, elaborei uma lista de Southern Rock que a par com os blues, é a música que mais gosto e o género que mais toquei com os Moloc, a minha banda dos anos 90.
Diz a lenda que o som Southern começou com os Allman Brothers, um misto de rock com blues, mas foram os Lynyrd Skynyrd quem o popularizou mediante os seus multi-platinados discos. A banda tornou-se mítica e por volta de 1977 lançam o álbum Street Survivors que na sua capa apresentava chamas por trás dos elementos do grupo. Há quem diga que esta capa previa o acidente aéreo que aconteceu logo a seguir e que vitimou grande parte dos seus membros. Dos sete elementos sobreviveram 3 que reactivaram o projecto com membros das famílias das vítimas, graças a isso o grupo sobreviveu até hoje. Os discos deles, todos eles, continuam a vender muito bem até aos nossos dias.
A partir dos Lynyrd muitos outros grupos emergiram no panorama Southern, entre os mais significativos temos Blackfoot com o guitarrista/baterista Rickey Medlocke que hoje integra os Lynyrd, os mal amados Molly Hatchett, Nantucket, Doc Holliday, Charlie Daniels Band, 38 Special ou os mais recentemente formados Gov’t Mule (Governament Mule…rssss). Existem muitas mais bandas de maior ou menor expressão, mas suficientes para manter acesa a chama e dar continuidade ao género.
Amante deste estilo ajudei a fundar uma banda por volta de 1992 chamada Moloc (o deus cananaico da fertilidade…rsss). Quase instintivamente adoptámos o estilo e o visual Southern, temas como “Ride”, “My Sweet Madness”. “Girl At The Bar Door” “Since The Day I’ve Met Yah”, “A Taste Of The Women”, fizeram sucesso nos bares e shows em que tocámos inúmeras vezes, foi para mim um período prolífico em termos de composição, escrevi mais de 30 canções em menos de 3 meses, 95% do material da banda, talvez daí resultasse a orientação musical. Este era um projecto que gostaria de reavivar, mas infelizmente a maior parte dos músicos que integravam o grupo deixaram de tocar. Quem sabe um dia com novos músicos traga de novo a banda.
Seja como for aqui fica o apontamento de um género musical que é mais do que simples música são histórias de vivência e do dia a dia, goste-se ou deteste-se as baladas desta música são inolvidáveis.

Histórias engraçadas da minha vida

Depois de ter feito um post com algumas das histórias engraçadas que me aconteceram enquanto músico, aproveitando que hoje domingo que está a chover, resolvi contar algumas das histórias engraçadas que me aconteceram ao longo da vida. Não sei se serão as melhores, mas na minha modesta opinião creio serem a minha coroa de glória…rsssss

Chocolate Suiço
Quando andava na escola preparatória (assim se chamava na época) aconteceu-me um dia ir a uma das gavetas dos meus pais buscar um papel já nem sei para quê. Dentro da gaveta estava um quadradinho embrulhado numa prata que me pareceu ser chocolate. Guloso e curioso como sou peguei-lhe e vá de experimentar, infelizmente era um pouco amargo demais para o meu gosto e só dei uma pequena trinca (sou muito cauteloso com coisas novas), abandonando, desiludido, o restante. Passados alguns minutos tive que correr para a casa de banho pois a minha barriga estava às voltas, percebi que era do chocolate porque o meu pai sofria de obstipação e dizia que comia chocolate laxante. Enquanto estava na sanita o meu cérebro trabalhava a cem à hora. Fui novamente à gaveta e vi que o meu pai tinha caixa e meia de Dulcolax, o tal chocolate. Peguei nas caixas e fui à mercearia local pedir um cartuchinho daqueles enfeitados que serviam para os bombons e outros doces do género (eu ainda sou do tempo dos doces avulso). Feito isto fui engendrando um plano enquanto me dirigia para a escola, naquele tempo íamos a pé para a escola, nada de luxos automobilísticos. A minha turma já era mista e exibindo o meu precioso cartuchito fui contando a história de que aqueles eram uns chocolates especiais que uma tia minha me enviara da Suiça. A verdade é que toda a gente comeu ou melhor, todos menos eu e uma desmancha-prazeres que não gostava de chocolate. A aula de Francês estava a começar e de repente começa-se a ouvir “setora tenho que ir à casa de banho estou muito aflito…”, depois outro e uma outra, mais uma aqui e outro acolá… a debandada foi geral e a professora sem perceber nada daquilo e eu rindo até às lágrimas enquanto via aquele corrupio de gente entupindo as casas de banho dos rapazes e a das raparigas, corriam já desapertando as calças pelo caminho numa aflição que só visto, os rostos congestionados, os olhos esbugalhados e eu ria até não poder mais.
Moral da história apanhei 15 dias de suspensão por não conseguir parar de rir nem na presença da directora da escola e um dos meus colegas que comeu sete chocolates esteve um mês em casa a chá e bolachas e quando voltou estava mais amarelinho do que um chinês e como a inteligência não era muita ainda me disse o seguinte: “É pá aquele chocolate que me deste era bom mas fez-me muito mal, imagina que mal eu bebia um copo de água borrava-me todo…”…rsssss.

Uma égua e cabeça dura
Eu já andava no Liceu Nacional de Cascais (S. João do Estoril) quando isto aconteceu por isso deveria ter cerca de 16 ou 17 anos. Na Torre, em Cascais, existia um picadeiro onde hoje é o hipermercado Lidl. Este picadeiro ficava perto da minha casa e como eu gostava de cavalos andava sempre lá metido. Fiz amizade com o proprietário e donos dos cavalos e em troca de ajudar nos trabalhos e manutenção aprendi a montar e montava regularmente. Assistia com regularidade ao desbravar dos cavalos novos, treino de alta escola e obstáculos. Um dia, no picadeiro mais pequeno que era delimitado por um muro bastante alto em cimento, estava uma égua com 1 ano de idade que nunca tinha sido montada e junto com um dos responsáveis estávamos um grupo de jovens, rapazes e raparigas mais ou menos rondando a mesma idade. O Emílio (o responsável andava já na casa dos trinta e poucos anos), lançou um repto que consistia em saber qual dos cavaleiros presentes, masculino ou feminino, seria capaz de montar aquela égua em pelo sem qualquer apetrecho e aguentar uma volta inteira sem ser atirado ao chão. Claro que começaram as bravatas, todos eram campeões de língua como os jovens naquela idade são. Face a tantos bravos e bravas o Emílio grita: “Então que avance o primeiro!” – aí a coisa mudou de figura, todos olhavam uns para os outros e ninguém avançava. Nessa hora o estúpido que está a escrever isto encheu o peito dar para se fazer ouvido e para se exibir para as garotas (as mulheres sempre foram a minha perdição…rssss) avançou uns passos e disse “Vou eu!! (eu e a mania das luzes da ribalta).
Montar até que não foi difícil e aguentei bem os saltos e as esticadelas que me desconjuntaram o corpo todo, dei duas voltas a toda a velocidade em torno do picadeiro até que, na terceira volta a égua com um torção projectou-me voando em direcção ao muro de cimento… voei, vi o muro a aproximar-se a grande velocidade, tentei estender as mãos e de repente “Boc!” a minha cabeça embateu no muro com aquele ruído surdo, ainda senti as mãos baterem depois e foi tudo. Não sentia nada, estava tudo escuro e as vozes cegavam até mim muito longe. Lembro-me de estar a pensar “Olha que estupidez morri. Não sinto corpo, não sinto dores, uma paz imensa, tudo escuro e vozes longínquas isto tem que ser a morte. Só que está tudo escuro e não vejo qualquer luz, o que faço agora?” Repentinamente senti um frio enorme na cara e umas dores intensas, abri os olhos e estava junto do bebedouro dos cavalos, lavavam-me a cara com água e diziam-me que estivera desmaiado algum tempo. Afinal não morrera e tinha a cara e as mãos todas esfoladas…rsssss.
Morte fictícia
Mais ou menos quando eu tinha 13 anos fui internado no Hospital de Santa Marta com uma febre reumática. Estive naquele serviço de medicina cerca de um ano. Naquele serviço morria gente todos os dias e depressa nos habituamos a conviver com a morte, a tal ponto que o seguinte episódio demonstra isso mesmo. Acabara eu de regressar de uns exames e pouco passava das 13h da tarde, tinham-me guardado a comida, batatas cozidas com couves e bacalhau. Sentei-me numa mesa que existia no meio da enfermaria que era composta por oito camas quatro de cada lado. Uns dias antes o meu vizinho do lado esquerdo tivera alta, mas a cama estava agora ocupada. Enquanto eu comia o meu vizinho do lado direito ia narrando os factos “Olha pá mandaram este velho cá para cima, veio das consultas. Acho que vem cheio de pulgas e cheira um bocado mal. Acho que tem “Trícia” (Icterícia) por isso é que está todo amarelo. Eu deitei uma olhada ao velhote e continuando a comer calmamente disse para o meu vizinho o seguinte: “Eu se fosse a ti carregava nesse botão de emergência para pedir ajuda pois a cor do velho é o amarelo de quem foi desta para melhor” e continuei a comer. O meu vizinho ainda pensou que eu estava a brincar mas depois de olhar para o velho carregou no tal botão. Agora vocês imaginem eu comendo tranquilamente no meio da enfermaria, os doentes todos pendentes do que estava a acontecer, enfermeiras correndo com equipamentos de reanimação, choques eléctricos e tudo o mais. Claro que o velhote bateu mesmo a bota. Cobriram-no e arrastaram a cama para fora da enfermaria para um local onde ficaria à espera do certificado médico do óbito. Virei-me tranquilamente para o meu vizinho e disse: “parece que nos livrámos das pulgas”. Isto é chocante mas é a realidade ficamos imunes. Mas esta morte deu-me uma ideia. Combinei com dois malucos como eu e esperámos pela mudança de turno dos enfermeiros e aí eu deitei-me na cama coberto pelo lençol e com um pé de fora onde estava pendurada a etiqueta de identificação para o óbito. Os dois malucos chamaram os enfermeiros recém chegados que nem queriam acreditar. Eu era muito querido naquele serviço, fazia poemas, desenhos, auxiliava nos trabalhos e acompanhava as vígilias com os enfermeiros. Confrontados com a minha morte os enfermeiros lamentaram a minha morte e algumas enfermeiras até choraram. Depois daquilo voltou toda a gente para a cama e os enfermeiros para a sua sala esperando que aquela fosse uma noite tranquila. Durante a noite preparava-se sempre um petisco, eu esperei até cerca das 2h da manhã e na hora do petisco, quando estavam todos a comer e a falar de mim e de como eu era bom rapaz eu surjo na sala e digo “E então não há uma buchinha para mim?”… olhem foi um mar de gente engasgada, os dois malucos e eu a rir a bandeiras despregadas, um pratinho…rsssss.

Há muitas mais histórias para contar mas não quero fazer este post muito longo pois acabo por me deixar entusiasmar e transformo este blog num livro das muitas histórias que tenho e que fazem parte de uma vida recheada de peripécias.

sábado, 21 de abril de 2007

Guitarras e Músicos

Quem me conhece sabe que entre as coisas que mais adoro estão as guitarras. Na minha casa têm que existir guitarras ou sinto-me nu, parece-me que falta qualquer coisa que aqueça o ambiente. Paralelamente ao meu gosto por guitarras adoro falar delas e de música, logo os músicos tornaram-se no pólo mais importante do meu círculo de amizades. Claro que com o tempo as coisas mudam e o que eram prioridades deixam de ser ou são substituídas por outras. No entanto, a minha paixão pelas guitarras nunca esmorece.
No começo era apenas uma, a Gallan cópia da Gibson SG, essa foi a minha primeira guitarra e o começo de uma viajem cheia de momentos únicos e muito fértil em experiências que se tornaram histórias para contar aos netos que os filhos já não têm pachorra para ouvir…rssssss. A partir da exploração dessa minha primeira guitarra comecei a modificar outras e até a fazer reparações a nível profissional. Não tardou muito que construísse uma guitarra de raiz, a minha Templar que ainda hoje me acompanha. Depois existiram outras que o tempo fez perder a conta. Entre as várias guitarras que construí ficaram a “Bones” e a “Apple” como pequenos marcos de viragens radicais na fuga à banalidade.
A experiência de reparar e construir guitarras, bem como o tocar em bandas e falar com muita gente levou-me ao desenho de modelos de guitarras. Alguns estão em construção, outros estão a ser avaliados como hipóteses de comercialização internacional, mas mesmo que não dê em nada diverti-me imenso a desenhá-los.
Também uma experiência que dura há anos, a minha ligação à Guitar Center em S. Gregório nas Caldas da Rainha. O Carlos Tavares é um excelente construtor é igualmente músico e também um grande técnico de amplificadores. Juntos temos procurado fazer algumas coisas num país onde muito falta e os incentivos não são nenhuns.

No meu deambular pela música conheci e fiquei amigo de muita gente famosa, uns mais do que outros. Conheci B. B. King, Scorpions, Judas Priest, Tina Turner, Marilyn Manson, Ramstein, Sammy Hagar, Peter Frampton, Eric Clapton, Skunk Anansie, Deep Purple… a lista continuaria páginas fora mas não quero escrever um testamento…rssss. Curiosamente posso afirmar que as estrelas são gente simples como nós. Ao contrário do que possa parecer a muita gente as estrelas não são deuses no alto de um pedestal, são seres humanos que vivem tal como todos nós com os seus problemas. Na minha amizade com alguns deles falamos de problemas que são comuns a qualquer pessoa, sejam eles de que índole for.
Claro que existem alguns com quem me identifico mais, o caso dão Mathias Jabbs dos Scorpions ou Sammy Hagar (Van Halen). Um senhor que admiro e que é uma pessoa excepcional e um ser humano fantástico é sem dúvida B.B. King. Por afinidade tenho a tendência a relacionar-me mais com os guitarristas e entre os que mais admiro estão Eric Clapton (uma pessoa excepcional) e Steve Morse (Deep Purple). O Steve é fantástico quer como pessoa quer como músico. Um guitarrista fenomenal, um compositor fabuloso cuja obra me inspira sempre a tocar.
Toquei com alguns deles em pequenas sessões naturais entre músicos e essa é a vantagem dos artistas sempre se arranja um espaço para a arte. Talvez um dia faça um post só sobre o meu contacto com o mundo das estrelas, até lá fica este pequeno abordar da história e algumas fotos do meu arquivo pessoal.

Dizem que perco a cabeça com guitarras mas neste caso estas duas perderam a cabeça por mim...rssssss