
Apesar de andar na música há muitos anos devo confessar que mulheres a tocar instrumentos no nosso país não são vulgares. Maioritariamente o papel das mulheres em bandas resumia-se a vocalista ou coros e pouco mais. Excepções existiram sempre, lembro-me da minha amiga Midus, agora radicada em Inglaterra, que fez sucesso como baixista/vocalista dos Roquivários e que tive o prazer de entrevistar para a Promúsica e até de lhe proporcionar um baixo especialmente concebido por ela na JP Guitars. Mas tudo isto para dizer que existem mulheres a tocar e a fazerem-no de forma soberba, fantástica e profissional como poucos homens o fazem… apresento-vos as
Black Widows!O Espaço Muralhas Rock

O meu primeiro contacto com as Black Widows data de 1997 altura em que uma amiga e membro da banda me falou delas. Posteriormente viriam a integrar o CD da Promúsica. Depois disso perdeu-se o contacto e só muito recentemente a propósito de um mail meu sobre um programa de rádio, voltei a entrar no mundo Widows. Fui convidado pela Rute Fevereiro para assistir a um concerto delas no Muralhas Rock em Alcabideche e que concerto!
Não foi difícil descobrir o local graças ao mapa existente no site do espaço. Cheguei cedo, pensava que o concerto era às 22h, mas no momento em que cheguei as Black Widows saíam para jantar. Entre um e outro copo de cerveja fui conversando com o dono do espaço. A ideia é manter aquele local livre de pessoas indesejadas, recebendo boa música, bandas e pessoas de braços abertos para que se sintam em casa. Na verdade, em todo o tempo que lá estive apercebi-me que o espaço é quente e convidativo, não só para ir ver bandas ao vivo mas também para ir beber um copo com amigos, namorada ou mulher. O ambiente é fantástico e somos atendidos com uma simpatia exemplar.

As Widows e o convidado
Indiscutivelmente a banda é toda ela filha única da
Rute Fevereiro. A Rute é uma dessas pessoas que sabe o que quer e sabe como o fazer. A liderança da Rute é bem patente em cada palavra, cada gesto e acentua-se à medida que os minutos passam e a hora de subir ao palco se aproxima. Pertence ainda à Rute a voz e a principal guitarra do grupo. Depois de trocarmos algumas palavras fiquei-me à conversa com o Emanuel, guitarrista convidado pelas Widows para preencher temporariamente o lugar ainda vago de uma segunda guitarrista (se alguma ler isto candidate-se!). Ao falar com este jovem guitarrista apercebemo-nos que fala de música com paixão mas com os pés bem assentes na terra. É uma pessoa doce,

mas firme e que sabe o que quer. Depois, entre um e outro copo de cerveja fui observando as restantes Widows de forma discreta.
Sara Cardoso é a baixista. A minha primeira impressão foi que se tratava de uma pessoa algo tímida com um ar doce, tal como os seus gestos, um ar de quem não parte um prato. A minha atenção virou-se depois para Ana costa, a baterista. O que pode dizer-se de uma garota de ar travesso, enérgica e que tem um corpo de pequena bailarina de porcelana com uma energia maior do que a que pode existir numa lata de Red Bull? Ela transpira energia por onde quer que passe. Finalmente temos a Mónica Rodrigues a teclista. A Mónica é grande, possui uma estatura acentuada e o ar de quem está em paz consigo mesmo. É uma dessas pessoas que inspiram calma e que até nos gestos mais enérgicos deixam transparecer essa calma que possuem.


O Concerto
A expectativa da minha parte é grande pois só ouvi algumas das músicas existentes no site da banda e tirando isso pouco mais. Logo aos primeiros acordes fiquei a perceber que estava em presença de uma banda organizada, competente e que sabe muito bem como conduzir a sua música. A Rute assume o seu papel de líder e a sua voz é bonita, forte e profunda. Ela passa

rapidamente de um registo limpo, doce e cristalino para um infernal som cavernoso e grave como que saído das profundezas. Rapidamente me apercebo da sua experiência de palco e também

do instrumento que toca, ela domina perfeitamente a sua guitarra com um som forte, musculado e quente. O mais curioso e que passa despercebido aos presentes é que Rute tem que manter uma concentração fenomenal para conseguir cantar, tocar guitarra e simultaneamente coordenar os sons da sua pedaleira com o pé, isto é obra e digno de admiração.
Para os que há pouco ficaram com a ideia de que a Mónica com a sua calma poderia não ser muito visual em palco, desiludam-se. Sempre com um ar

espacial, reforçado pela pintura, a teclista está segura e debita a sua parte com uma impressionante postura. As teclas fazem-se ouvir de forma perfeita e distinta. Mas a minha surpresa recaiu sem dúvida sobre a baixista e a baterista. A Sara em palco deixa o seu ar tímido e transforma-se em tigre, mas um daqueles com garra. Segura na execução do instrumento mas com um feeling enorme que dá

gosto de ver. Aliás pude notar quais as músicas que mais lhe agradam tocar pois cantava-as todas em silêncio com um trejeito de lábios e marcações com o corpo, adorei. Lembram-se da menina energia com corpo de bailarina de quem falei anteriormente? A baterista? Pois é, a garota chega em cima do palco e desata a bater de forma forte, enérgica e segura com poucos homens o fazem. Toda ela é o instrumento enquanto na sua cara um largo sorriso de felicidade ilumina o espaço.

Esta garota é um animal de palco sem qualquer dúvida.
Não poderia terminar esta peça sem falar do
Emanuel. Ele esteve seguro, sóbrio quanto bastasse mas sem deixar de ser efectivo. Na verdade ele está a desempenhar um lugar que não é o seu e no qual assume a sua quota-parte de responsabilidade. Tem um som forte e bem vincado.

No global a música das Black Widows caracteriza-se por nos dar momentos de suaves viagens por mundos encantados para logo nos atirar para as profundezas vulcânicas de um inferno muito próprio arrancando-nos num ápice para um céu delirante e majestoso. Muito de tudo isto se deve à fantástica voz da Rute e ao entrosamento que existe na banda. Na minha opinião um espectáculo a não perder sempre que passe perto de vós e mesmo que tenham que ir um pouco mais longe, vão porque valerá a pena. Estas meninas vão longe.

Termino com uma foto de família em que muito honrado na companhia das e do Black Widows. Espero em breve poder acrescentar aqui um tema para vocês poderem ouvir, mas até ao fecho desta edição tal tema ainda não chegou. Acrescento ainda que fiquei fã do grupo, das meninas e da música que fazem. Claro que do Emanuel fiquei amigo e admirador.