quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Assim parte uma alma...

Há muito que não vinha aqui e quero desde já agradecer a todos quantos por aqui passaram e deixaram o seu comentário e aos muitos que reclamaram a minha continuidade, infelizmente outras coisas de relevante importância requereram a minha atenção. Aqui fica no entanto o meu regresso, ainda que na minha alma subsista uma eterna tristeza.






(dedicado ao meu querido e amado Bahari o cão da minha vida)
Foi hoje dia 28-07-08 que levei o meu cão até à Universidade de Medicina Veterinária. Ele saiu do carro e ainda me puxou, quis fazer um último cocó, sem saber que era o último. A muito custo, quase que tive que o arrastar entrámos. Os médicos foram super simpáticos e atenderam-nos logo. Na minha mente bailavam vários pensamentos, via-me a acordar e a ir tomar o pequeno-almoço, a ir aos correios e voltar. Olhei para os meus dois cães, o Ikbal e o Bahari, dois filhos, dois pilares da minha vida. Sabia que um deles dentro em breve tinha que nos deixar mercê de um tumor maligno incurável e não operável. Os últimos dias tinham sido de grande sofrimento para todos nós, especialmente para ele. Peguei no Ikbal e levei-o à rua que ele tanto adora, demos um longo passeio enquanto a minha cabeça fervilhava de mil pensamentos e o meu coração se desfazia em pedaços de dor e agonia. O passeio terminou e quando entrei em casa o Bahari, não obstante o mal e o sofrimento aguentava-se estoicamente de pé há espera da vez dele ir à rua. Saímos, eu fui buscar o carro preparando-o para o transporte… sentia-me como a morte com a sua foice que vai buscar o condenado a atravessar o rio…
Aquela sala de espera cheia de cães pareceu-me a antecâmara de um qualquer quadro surreal. Fomos chamados e acompanhados até uma saleta onde deitámos o Bahari. Tive que assinar um termo de responsabilidade em como autorizava a eutanásia e doava o corpo para estudo. Enquanto isto o meu querido cão jazia numa marquesa onde o médico lhe rapava parte do pelo da pata direita para lhe introduzir um cateter com soro. Pensava que era um processo rápido, mas não é. Já a soro movemos o meu patudo para uma marquesa com rodas e fomos para uma sala sossegada. Ficámos ali eu sempre a acariciar o meu querido cão enquanto o soro lhe ia entrando na veia e ajudando a acalmar a dor, o meu patudo manteve-se sempre muito calmo. Dez minutos mais tarde o médico reapareceu e perguntou-me se era para avançar, eu disse que sim. A partir desse momento coloquei-me de cócoras em frente da marquesa os meus olhos nos olhos do meu amado cão, queria que ele lesse a minha alma e eu a dele, que quando partisse soubesse que eu ia com ele e que acontecesse o que acontecesse a gente se irá encontrar um dia destes, não foi um adeus, foi um até breve. O médico mostrou-me uma seringa e disse-me que era um sedativo para o adormecer para que ele não sofresse. Perguntou-me mais uma vez se era para continuar… eu confirmei com uma firmeza que resulta da impotência e do desespero. Pouco depois da injecção vi o meu amado patudo ir adormecendo lentamente em paz. O médico explicou que ele já estava a dormir pois era natural, e eu sei porque vi muitas vezes, que revirasse os olhos. Nessa altura o meu coração apertou-se mais, já chorara por várias vezes mas cerrei os dentes para não chorar em todo o processo não quis que o meu cão me visse chorar ele que foi sempre um cão forte que enfrentou tudo e que tinha uma enorme força de viver. O médico segurava agora a seringa fatal… perguntou-me se era para avançar, confirmei. Vi a seringa esvaziar-se para dentro da veia do meu querido filho e soube que o primeiro passo estava dado. Não tardou que os pulmões parassem, segunda injecção, aquela que faria com que o coração parasse. Minutos depois estava tudo terminado, passei a minha mão por aquele corpo inerte, ainda estava quente, parecia mentira que já não voltasse a saltar ao meu redor nem a fazer aqueles gestos tão peculiares dele quando eu chegava. Naquele momento soube e senti que um dos pilares da minha vida acabara ali e que parte de mim foi com ele.