quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Umas viúvas negras especiais

Apesar de andar na música há muitos anos devo confessar que mulheres a tocar instrumentos no nosso país não são vulgares. Maioritariamente o papel das mulheres em bandas resumia-se a vocalista ou coros e pouco mais. Excepções existiram sempre, lembro-me da minha amiga Midus, agora radicada em Inglaterra, que fez sucesso como baixista/vocalista dos Roquivários e que tive o prazer de entrevistar para a Promúsica e até de lhe proporcionar um baixo especialmente concebido por ela na JP Guitars. Mas tudo isto para dizer que existem mulheres a tocar e a fazerem-no de forma soberba, fantástica e profissional como poucos homens o fazem… apresento-vos as Black Widows!

O Espaço Muralhas Rock
O meu primeiro contacto com as Black Widows data de 1997 altura em que uma amiga e membro da banda me falou delas. Posteriormente viriam a integrar o CD da Promúsica. Depois disso perdeu-se o contacto e só muito recentemente a propósito de um mail meu sobre um programa de rádio, voltei a entrar no mundo Widows. Fui convidado pela Rute Fevereiro para assistir a um concerto delas no Muralhas Rock em Alcabideche e que concerto!
Não foi difícil descobrir o local graças ao mapa existente no site do espaço. Cheguei cedo, pensava que o concerto era às 22h, mas no momento em que cheguei as Black Widows saíam para jantar. Entre um e outro copo de cerveja fui conversando com o dono do espaço. A ideia é manter aquele local livre de pessoas indesejadas, recebendo boa música, bandas e pessoas de braços abertos para que se sintam em casa. Na verdade, em todo o tempo que lá estive apercebi-me que o espaço é quente e convidativo, não só para ir ver bandas ao vivo mas também para ir beber um copo com amigos, namorada ou mulher. O ambiente é fantástico e somos atendidos com uma simpatia exemplar.

As Widows e o convidado
Indiscutivelmente a banda é toda ela filha única da Rute Fevereiro. A Rute é uma dessas pessoas que sabe o que quer e sabe como o fazer. A liderança da Rute é bem patente em cada palavra, cada gesto e acentua-se à medida que os minutos passam e a hora de subir ao palco se aproxima. Pertence ainda à Rute a voz e a principal guitarra do grupo. Depois de trocarmos algumas palavras fiquei-me à conversa com o Emanuel, guitarrista convidado pelas Widows para preencher temporariamente o lugar ainda vago de uma segunda guitarrista (se alguma ler isto candidate-se!). Ao falar com este jovem guitarrista apercebemo-nos que fala de música com paixão mas com os pés bem assentes na terra. É uma pessoa doce, mas firme e que sabe o que quer. Depois, entre um e outro copo de cerveja fui observando as restantes Widows de forma discreta. Sara Cardoso é a baixista. A minha primeira impressão foi que se tratava de uma pessoa algo tímida com um ar doce, tal como os seus gestos, um ar de quem não parte um prato. A minha atenção virou-se depois para Ana costa, a baterista. O que pode dizer-se de uma garota de ar travesso, enérgica e que tem um corpo de pequena bailarina de porcelana com uma energia maior do que a que pode existir numa lata de Red Bull? Ela transpira energia por onde quer que passe. Finalmente temos a Mónica Rodrigues a teclista. A Mónica é grande, possui uma estatura acentuada e o ar de quem está em paz consigo mesmo. É uma dessas pessoas que inspiram calma e que até nos gestos mais enérgicos deixam transparecer essa calma que possuem.

O Concerto
A expectativa da minha parte é grande pois só ouvi algumas das músicas existentes no site da banda e tirando isso pouco mais. Logo aos primeiros acordes fiquei a perceber que estava em presença de uma banda organizada, competente e que sabe muito bem como conduzir a sua música. A Rute assume o seu papel de líder e a sua voz é bonita, forte e profunda. Ela passa rapidamente de um registo limpo, doce e cristalino para um infernal som cavernoso e grave como que saído das profundezas. Rapidamente me apercebo da sua experiência de palco e também do instrumento que toca, ela domina perfeitamente a sua guitarra com um som forte, musculado e quente. O mais curioso e que passa despercebido aos presentes é que Rute tem que manter uma concentração fenomenal para conseguir cantar, tocar guitarra e simultaneamente coordenar os sons da sua pedaleira com o pé, isto é obra e digno de admiração.
Para os que há pouco ficaram com a ideia de que a Mónica com a sua calma poderia não ser muito visual em palco, desiludam-se. Sempre com um ar espacial, reforçado pela pintura, a teclista está segura e debita a sua parte com uma impressionante postura. As teclas fazem-se ouvir de forma perfeita e distinta. Mas a minha surpresa recaiu sem dúvida sobre a baixista e a baterista. A Sara em palco deixa o seu ar tímido e transforma-se em tigre, mas um daqueles com garra. Segura na execução do instrumento mas com um feeling enorme que dá gosto de ver. Aliás pude notar quais as músicas que mais lhe agradam tocar pois cantava-as todas em silêncio com um trejeito de lábios e marcações com o corpo, adorei. Lembram-se da menina energia com corpo de bailarina de quem falei anteriormente? A baterista? Pois é, a garota chega em cima do palco e desata a bater de forma forte, enérgica e segura com poucos homens o fazem. Toda ela é o instrumento enquanto na sua cara um largo sorriso de felicidade ilumina o espaço. Esta garota é um animal de palco sem qualquer dúvida.
Não poderia terminar esta peça sem falar do Emanuel. Ele esteve seguro, sóbrio quanto bastasse mas sem deixar de ser efectivo. Na verdade ele está a desempenhar um lugar que não é o seu e no qual assume a sua quota-parte de responsabilidade. Tem um som forte e bem vincado.
No global a música das Black Widows caracteriza-se por nos dar momentos de suaves viagens por mundos encantados para logo nos atirar para as profundezas vulcânicas de um inferno muito próprio arrancando-nos num ápice para um céu delirante e majestoso. Muito de tudo isto se deve à fantástica voz da Rute e ao entrosamento que existe na banda. Na minha opinião um espectáculo a não perder sempre que passe perto de vós e mesmo que tenham que ir um pouco mais longe, vão porque valerá a pena. Estas meninas vão longe.

Termino com uma foto de família em que muito honrado na companhia das e do Black Widows. Espero em breve poder acrescentar aqui um tema para vocês poderem ouvir, mas até ao fecho desta edição tal tema ainda não chegou. Acrescento ainda que fiquei fã do grupo, das meninas e da música que fazem. Claro que do Emanuel fiquei amigo e admirador.

domingo, 14 de outubro de 2007

Onde eu estiver sempre existirão guitarras

…Onde estiveres sempre haverá muitas guitarras…
A frase é do Van Dog mas nada de mais verdadeiro podia ter sido dito.
Há muitos anos num pátio estava um velhote com uma guitarra de fado e numa outra cadeira um garoto de seis anos matraqueava uma viola. O velhote era o meu avô e o garoto era eu. Foi deste modo que começou a minha paixão por guitarras, paixão essa que nunca mais me abandonou. O meu avô só sabia dois acordes e repetia-os incessantemente, eu não sabia nenhum mas fazer barulho com as cordas sabia muito bem he he he.
Por volta dos meus 8 anos descia a Rua do Carmo com a minha mãe e bem no final da rua existia uma loja de instrumentos, a Pompeu Machado. Foi nessa loja que vi a minha primeira guitarra eléctrica, era toda negra, linda, só muitos anos mais tarde soube que se tratava de uma Gibson Les Paul, mas na altura tudo o que eu pensava é que queria uma daquelas para mim. Dois anos mais tarde fiz a minha estreia em palco na Colónia Balnear Infantil de “O Século”. Estive lá de férias e no final havia sempre uma festa com a participação dos miúdos. Nessa altura escrevi de cabeça uma canção que alguém passou para a viola e que eu cantei no espectáculo, chamava-se “Quero Mi Papá”, Porquê? Não sei. Foi então que dei a minha primeira entrevista para o jornal com o mesmo nome da colónia.

Quando tinha 16 anos comprei a minha primeira guitarra numa loja em Cascais. Eu já trabalhava e estudava na altura. Lembro-me que dei o ordenado de um mês e mais outro que o patrão me adiantou ficando a pagar o resto em seis meses, eu ganhava na altura 5 contos por mês, a guitarra custou 40 contos em 1975. O instrumento é uma Gallan, cópia de Gibson SG, que tinha 3 captadores e um tremolo, guitarra que ainda conservo apesar das inúmeras transformações que já sofreu.

A partir do momento em que comprei a guitarra comecei um processo de auto-aprendizagem a todos os níveis: aprender a tocar e descobrir como é que a ligava ao gira-discos para ter som eléctrico. O remédio foi ligar um fio à cabeça no lugar da agulha e voilá estava no mundo eléctrico não sem antes levar uns choques para abrir a pestana.
Em 1979 escrevi várias letras para uma banda de rock, os NZZN, uma delas que podem ouvir neste post, “Heavy Metal”, viria a ser incluída no álbum da banda, Forte e Feio. Paralelamente já tocava com bandas locais em projectos mais ou menos efémeros. Nunca mais deixei de tocar muito embora exercesse actividades paralelas: carpintaria, reparação de instrumentos e informática. Parecendo que não tem nada a ver, a verdade é que tudo isto teve um propósito, a construção de instrumentos. Em 1992 depois de ter tocado com vários músicos fui convidado para entrar para um projecto de gente muito mais jovem, inexperiente, que tinha três músicas alinhavadas. Algum tempo depois já tínhamos mais de 18 músicas. Foi um período prolífero da minha parte em matéria da escrita de canções. O grupo durou até 1994 e ainda alcançou um certo estatuto no meio musical. Foi nessa altura que recebi o convite para integrar os Oceanea do Tó Neto, projecto com o qual estive até 1997, incluindo uma breve passagem pela banda que acompanhava o Roberto Leal.

Abandonei o Tó Neto em 1997 para m dedicar ao jornalismo musical e até 2001 participei em concertos esporádicos, alguns deles com gente muito famosa internacionalmente, em 2002 toquei num espectáculo de aniversário da revista Promúsica e daí para cá nunca mais pisei um palco, afastando-me bastante da música, das guitarras é que não.

Até hoje mantenho cerca das 10 mais importantes guitarras em temos sentimentais, todas as outras foram vendidas. Sempre usei diferentes guitarras ao longo dos anos até que em 1987 um amigo me trouxe a minha guitarra amarela que se converteu no meu principal instrumento e aquele pelo qual fiquei mais conhecido. Desenhei e construí vários instrumentos, a Bonés a Templar são apenas dois exemplos que podem ver na foto, mas a verdade é que cada guitarra que usei conta uma história e com elas escreverei um dia um livro. Não sei viver sem guitarras por perto. Elas foram a minha companhia nos dias difíceis e nos dias felizes, com elas chorei mágoas e com elas celebrei alegrias. As guitarras são aquilo que de mais constante existe na minha vida. Mesmo que seja na forma de um relógio.
Deixo-vos um pequeno vídeo gravado num showcase numa discoteca e que teve este solo maravilhoso executado na minha Bones, uma guitarra que construí manualmente /e que podem ver na foto um pouco acima junto com a que tem uma cruz vermelha) e que é uma espécie de coroa de glória.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Seremos coleccionadores compulsivos?

Em primeiro lugar peço desculpa a todos quantos me visitam e que eu visito, pela minha prolongada ausência, mas o tempo tem sido escasso quer por motivos de trabalho quer por cansaço. Tenho andado para escrever um novo post há já algum tempo mas sinceramente andei algo indeciso sobre o que escrever tantos são os assuntos interessantes. Hoje optei por falar de colecções que até se podem resumir a uma quantidade de tralha que juntamos ao longo dos anos.
Muitos de nós, quase sem querer, vamos guardando terços disto ou daquilo, amontoamos revistas, discos, CDs e sei lá o que mais quase sem darmos conta. Algumas coisas por gosto, outras simplesmente por casualidade, as revistas por exemplo. No meu caso é compulsivo: guardo tudo!!! Na minha casa é frequente encontrar guitarras, coisas sobre música, quadros, papeis, revistas, livros, miniaturas de Lamborghinis e figuras dos Kiss ou de qualquer outro músico de que eu gosto e até unicórnios he he he. Gosto de guardar coisas essa é a verdade, fotografias então nem se fala.
Em tempos tive mais de 2000 Lps e posteriormente o mesmo número de CDs, um dia vendi a maior parte e fiquei apenas com os que realmente ouço com regularidade ao longo dos anos. No caso das guitarras a coisa foi mais complicada pois gosto de todas quer pelo design, formato ou simplesmente pelo valor sentimental. Na verdade cada objecto, peça ou pedaço de papel representa um fragmento da minha vida, dos meus interesses ou até da minha curiosidade e isso atribui-lhe um valor intrínseco que me impele a guardar. Ainda recentemente ao ajudar uma amiga com o seu programa de rádio acabei com uma imensidão de ficheiros mp3 com músicas que já não escutava há mais de 20 anos e que redescobri agora com prazer. Gosto de coleccionar canetas por exemplo. Na verdade o que nos leva a coleccionar? Será o simples prazer de termos as coisas? Será a necessidade de suprir um qualquer carência afectiva ou simplesmente o querer preservar coisas e momentos que em determinada altura se revelaram importantes e estão impregnadas de sentimento e diversificados laços afectivos?
Em determinadas alturas faço uma limpeza geral e deito muita coisa fora mas curiosamente, no final, verifico que o espaço ocupado é o mesmo que anteriormente. Lembro-me de ter feito uma escolha na minha roupa, algumas peças com mais de 10 anos. Só t-shirts tinha mais de 150 imaginem. No final dei para instituições mais de 3 sacos gigantes, daqueles do lixo, os pretos, curiosamente nem por isso o meu roupeiro ficou menos cheio. Sapatos e botas outra colecção! Não há qualquer dúvida sou mesmo coleccionador seja lá do que for que desperte o meu interesse e vá ao encontro dos meus gostos. No entanto, aquilo que gosto mesmo é de guitarras. Já tive mais de 50 que reduzi primeiro para 30 e posteriormente para 20. Hoje tenho apenas 10 das mais significativas mas existe sempre espaço para mais uma he he he. A minha casa sem guitarras seria a mesma coisa que um funeral sem o morto já que o padre é dispensável. Aliás, um dia que eu morra e passe para o outro lado (lagarto, lagarto) se não existirem lá guitarras venho-me embora!